Pivô de caso contra Trump, atriz pornô tem depoimento questionado na corte
Stormy Daniels voltou ao júri dois dias depois de testemunhar sobre affair com ex-presidente americano, acusado de falsificar registros comerciais
A ex-atriz pornô Stormy Daniels, peça central do julgamento contra o ex-presidente americano Donald Trump por falsificação de registros comerciais, voltou a depor nesta quinta-feira, 9, em um tribunal de Nova York. Lá, foi acusada pela defesa do republicano de tentar lucrar com o caso e teve o testemunho anterior questionado.
A advogada de Trump, Susan Necheles, exibiu na corte publicações nas redes sociais de Daniels em que ela anuncia mercadorias em sua loja online na época do indiciamento de Trump, no ano passado. “Uma grande parte de sua subsistência nos últimos anos tem sido ganhar dinheiro com a história de que você teve relações sexuais com o presidente Trump e que ajudará a condená-lo, certo?” perguntou a advogada.
Daniels respondeu que precisa de dinheiro para pagar suas contas — ela deve mais de US$ 500 mil a Trump devido a um processo de difamação fracassado.
Necheles também tentou usar o trabalho de atriz pornô para lançar dúvidas sobre seu relato. “Você tem experiência em fazer histórias falsas sobre sexo parecerem reais?” perguntou. Daniels não se abalou e respondeu, irônica, provocando risos no tribunal: “Se essa história fosse falsa, eu teria escrito de forma muito melhor”.
Sem precedentes
O processo é histórico, já que Trump é o primeiro presidente do país – ex ou atual – a enfrentar um julgamento criminal. Além disso, ele também é o candidato republicano favorito para disputar as eleições presidenciais contra o chefe da Casa Branca, Joe Biden, em novembro.
O ex-presidente será obrigado a comparecer pessoalmente ao tribunal, a menos que solicite uma isenção – se fosse esse o caso, a promotoria ainda assim poderia contestar.
Se for considerado culpado, Trump pode, teoricamente, enfrentar mais de uma década de prisão. Outra possibilidade, porém, é que o juiz renuncie à prisão e o coloque em liberdade condicional, com a possibilidade de cadeia pairando sobre sua cabeça se ele não cumprir as condições estabelecidas pela corte.
Outra figura importante que ainda deve depor é o ex-advogado de Trump Michael Cohen, hoje rompido com ele e provável testemunha de acusação. Cohen teria pagado US$ 130 mil à atriz pornô Stormy Daniels em acordo para que ela não falasse sobre suposto caso com o empresário, segundo a Promotoria.
Relembre o caso
A ação no tribunal está ligada à descoberta de um suposto esquema, cujo objetivo seria impedir que casos extraconjugais entre Trump e Daniels, bem como entre Trump e McDougal, viessem à tona e chegassem aos ouvidos dos eleitores às vésperas do pleito presidencial de 2016 (que ele venceu).
Segundo os promotores, isso ocorreu porque o então candidato temia ter a imagem prejudicada pela descoberta. Então, pagou US$ 130 mil a Daniels (cerca de R$ 442 mil na cotação da época) apenas 12 dias antes da eleição, para comprar seu silêncio. Porém, ele fez isso através de seu advogado, Michael Cohen, que transferiu o dinheiro por meio de uma empresa de fachada.
Depois de vencer a eleição em 2016, Trump restituiu Cohen com uma série de cheques mensais, que vinham ou de um fundo de ativos da empresa do então presidente ou de sua própria conta bancária. Foram 11 cheques, nove dos quais o próprio Trump assinou. No entanto, os gastos foram registrados enganosamente como “despesas legais” com seu advogado.
A empresa do então presidente, a Trump Organization, processou esses cheques “disfarçados como um pagamento por serviços jurídicos prestados segundo um acordo de retenção inexistente”, disseram os promotores. Por isso, no ano passado, o republicano foi indiciado com 34 acusações de falsificação de registros comerciais. Trump fez isso “com a intenção de fraudar, de cometer crime, e ajudar e ocultar a prática do mesmo”.
Outros casos
Contando com o processo dos subornos secretos, Trump enfrenta 92 acusações criminais no total, em quatro investigações diferentes:
- O ex-presidente foi indiciado por reter documentos secretos da Casa Branca após deixar a Presidência e exibi-los a amigos em seu clube de campo, incluindo textos contendo informações ultrassecretas sobre o arsenal nuclear dos Estados Unidos.
- Numa ação movida pelo Departamento de Estado, ou seja, de âmbito federal, Trump é acusado de tentar anular sua derrota eleitoral de 2020, um esforço que culminou na invasão do Capitólio americano, em 6 de janeiro de 2021, por seus apoiadores, a fim de impedir o Congresso de certificar a vitória de Joe Biden.
- Uma ação movida pelo estado da Geórgia também está relacionada à tentativa de subversão do resultado das eleições
Fora isso, Trump perdeu dois processos civis recentemente – um por difamar a escritora E Jean Carroll, alegando que ela mentiu quando o acusou de tê-la estuprado, e outro por fraude, aumentando artificialmente o valor de suas propriedades em Nova York para obter negócios melhores com seguradoras e credores. Até agora, ele deve mais de US$ 500 milhões por essas derrotas.