Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Pedra no sapato da Europa, Orbán terá 1ª eleição com oposição fortalecida

A União Europeia torce pela remoção desse “corpo estranho”, cada vez mais autoritário e populista, de seu meio

Por Ernesto Neves Atualizado em 4 jun 2024, 12h40 - Publicado em 12 fev 2022, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Exemplo de autocrata bem-­sucedido e invejado por seus pares na expansão mundial da extrema direita durante a última década, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, surgiu na política nos estertores da finada União Soviética. Na época, sua especialidade era desancar a Rússia, potência que subjugou seu país durante quarenta anos. Pois a Hungria do mesmo Orbán, em gritante virada de casaca, é agora o único país da Europa a apoiar Moscou na crise desencadeada pelo cerco militar russo à Ucrânia. A posição foi reforçada no efusivo encontro que manteve com o presidente Vladimir Putin, no início do mês. “No atual cenário, é uma traição Orbán visitar Moscou”, escreveram em comunicado representantes de partidos de oposição húngara.

    A motivação do primeiro-ministro é, acima de tudo, pragmática: ideologias à parte, a Hungria depende do gás e de investimentos russos para suprir a maior parte da energia que consome e, com um inverno rigoroso em andamento e uma eleição difícil pela frente, a última coisa que o governo quer é ter de aumentar a conta do aquecimento dos húngaros por causa de trombadas com Putin. A conversa com o presidente russo durou cinco horas e, segundo Orbán, os dois trataram exclusivamente de assuntos econômicos. Sobre a crise russo-ucraniana, o primeiro-ministro, mais uma vez, pôs panos quentes: “Estou convencido de que as diferenças podem ser superadas”. Seu ministro das Relações Exteriores, Péter Szijjártó, foi mais direto ao rebater as críticas à mão estendida a Putin, com quem tanto a União Europeia quanto a Otan — ambas entidades das quais a Hungria faz parte — estão em confronto: “Não se aquece casas com declarações políticas”, afirmou.

    Prometer aos eleitores que a conta de luz não vai aumentar se encaixa na toada populista que sustenta Orbán, figurão do ultranacionalismo e da defesa da “alma húngara” que manifesta repulsa aberta a imigrantes e aos movimentos LGBTQIA+ e endossa o que chama de “democracia iliberal” (também conhecida como ditadura). Por essas e outras, ele se tornou um espinho constante na garganta da União Europeia, esmerando-se em apoiar causas antidemocráticas frontalmente contrárias aos estatutos do bloco. Até agora, seus arroubos só renderam advertências e atrasos na liberação de recursos, enquanto a UE segue empurrando o problema com a barriga, tentando evitar punições mais desgastantes.

    UNIÃO - Comício da oposição: um só candidato e bandeiras da UE e da Hungria -
    UNIÃO - Comício da oposição: um só candidato e bandeiras da UE e da Hungria – (Attila KISBENEDEK/AFP)

    Uma derrota de seu partido, o Fidesz, nas urnas era impensável até pouco tempo atrás, mas a situação mudou. Depois de surfar uma sólida onda de popularidade desde que assumiu o governo, em 2010 — período em que aproveitou para esmagar opositores, fechar a imprensa livre, aparelhar as universidades e sufocar a independência do Judiciário —, ele enfrenta, a dois meses das eleições para o Parlamento, marcadas para 3 de abril, uma inédita vulnerabilidade. Pela primeira vez, a oposição superou diferenças e se uniu em uma coalizão de seis legendas, que alia esquerda, centro e direita e dá suporte a Péter Már­ki-­Zay, um católico conservador pai de sete filhos.

    Continua após a publicidade

    Segundo as últimas pesquisas, Orbán tem 49% das intenções de voto e Márki-Zay, 45%. Acuado, o primeiro-ministro, com a justificativa de “proteger as famílias” da inflação, tirou do saco populista o congelamento de preços de produtos da cesta básica, um aumento das aposentadorias e do salário mínimo e cortes nos juros de financiamento imobiliário. Ao mesmo tempo, a imprensa, inteiramente controlada por simpatizantes do Fidesz, empreende ataques diários a Márki-­Zay, acusado, entre outras coisas, de ser agente infiltrado da CIA. Insensíveis à ironia de um país liberado de décadas de jugo soviético estar mais próximo da Rússia do que da Europa e Estados Unidos, populistas mundo afora manifestam admiração por Orbán e sua guerra cultural contra as “elites corruptas”.

    Entre os fãs está o ex-presidente americano Donald Trump, que apoia sua reeleição e é esperado em Budapeste para eventos de campanha, e Jair Bolsonaro, que irá ao país daqui a poucos dias, depois de uma visita oficial a Moscou. “Ao suprimir a oposição sem golpes de Estado ou violência, Orbán passou a encarnar a visão de estrategista e homem forte da política”, diz Kim Lane Scheppele, sociólogo de Princeton. Derrotá-­lo não será tarefa fácil. A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) alerta para a “sobreposição generalizada de recursos do Estado e do partido no poder”. Uma nova legislação eleitoral garante vitória ao Fidesz em distritos em que tenha apenas 30% dos votos, caso a oposição se divida. Além disso, Orbán e sua família gerenciam a distribuição de recursos do Orçamento — uma gestão eivada de irregularidades, de acordo com a agência antifraude europeia Olaf. Resta à União Europeia cruzar os dedos e aguardar o resultado de abril.

    Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2022, edição nº 2776

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.