Os deputados democratas Daniel Goldman e Ritchie Torres, ambos de Nova York, apresentaram uma queixa oficial nesta terça-feira, 10, para o Comitê de Ética da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos e pediram uma investigação contra George Santos, deputado filho de brasileiros que admitiu ter mentido sobre seu currículo e passado em dezembro.
Republicano abertamente gay e filho de imigrantes brasileiros, Santos acabou de tomar posse em seu primeiro mandato como deputado, mas já está cercado de controvérsias e pedidos de renúncia. Ele infringiu a lei depois de apresentar as declarações financeiras exigidas para a candidatura com atraso e sem detalhes importantes sobre suas finanças. Além disso, ele é acusado de estelionato no Rio de Janeiro e tem um processo em andamento desde 2008.
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“O congressista Torres e eu sentimos que é incrivelmente importante garantir que a integridade da Câmara e de seus membros seja colocada em primeiro lugar”, declarou Goldman, ex-promotor federal que representa partes de Lower Manhattan e Brooklyn.
Os dois parlamentares decidiram entrar com as queixas depois do silêncio da liderança republicana. Desde o mês passado, o presidente da Câmara, o republicano Kevin McCarthy, está em silêncio sobre a situação de seu companheiro de partido. Porém, nesta terça-feira, o deputado Steve Scalise, da Louisiana, líder da maioria republicana, afirmou que o partido trataria internamente das questões do papel de Santos no Congresso.
“Obviamente, havia preocupações sobre o que ouvimos, então teremos que sentar e conversar com ele sobre isso”, informou Scalise em entrevista coletiva.
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Santos entrou no Congresso já sendo alvo de investigações depois que o New York Times descobriu inconsistências sobre seu passado e omissões financeiras, o que levantou diversas questões sobre as despesas de sua campanha. Os promotores federais e locais alegaram que investigam a possibilidade do republicano ter cometido algum crime que envolva suas finanças ou mentiras durante a campanha.
O Campaign Legal Center, um grupo americano de monitoramento de campanhas, apresentou uma queixa à Comissão Eleitoral Federal nesta segunda-feira, 9, e acusou o deputado de usar o dinheiro da campanha para despesas pessoais, além de deturpar os gastos e ocultar as verdadeiras fontes de financiamento de sua campanha.
Em algumas entrevistas, Santos admitiu ter mentido aos eleitores sobre sua história educacional e profissional para “embelezar” seu currículo. “Meus pecados aqui estão embelezando meu currículo”, afirmou o deputado ao The New York Post. Santos também confessou que mentiu sobre sua formatura na faculdade e de ter trabalhado no Citigroup ou para o Goldman Sachs.
No entanto, Santos não comentou sobre a falta de informação sobre os formulários de divulgação financeira que ele preencheu com o secretário da Câmara durante sua campanha. Apesar dos candidatos serem obrigados a enviar o relatório até o dia 15 de maio do ano eleitoral, o republicano só apresentou em setembro.
Ele relatou que sua empresa, a Devolver Organization, pagou a ele um salário de 700 mil dólares e forneceu um dividendo de um valor entre 1 milhão e 5 milhões de dólares. Porém, ele não forneceu detalhes sobre clientes que poderiam ter o ajudado a ganhar tal quantia, uma violação da exigência de divulgar qualquer compensação superior a 5 mil dólares.
Santos também afirmou ter um apartamento no Rio de Janeiro de 1 milhão de dólares. Entretanto, ao ser questionado sobre a propriedade pelo The New York Post em dezembro, o republicano negou ter uma propriedade no Brasil.
Segundo Goldman e Torres, o republicano teria violado a Lei de Ética no Governo, uma lei anticorrupção aprovada pelo Congresso após o escândalo de Watergate nos anos 70. Para eles, o formulário feito por Santos não era “oportuno, preciso e completo”. Nesta terça-feira, Santos afirmou a repórteres em Washington que “não fez nada antiético”.
No mês passado, Nick LaLota, outro republicano que também está em seu primeiro mandato, pediu uma “investigação completa do comitê de ética da Câmara e, se necessário, aplicação da lei”. O comitê não é conhecido por distribuir punições significativas e raramente o Congresso toma medidas disciplinares sérias contra membros, a não ser que a situação chegue ao nível de um crime federal.
A forma em que o corpo comanda estes processos é frequentemente criticada. Grupos de vigilância do governo afirmam que o Congresso é muito lento. A porta-voz do grupo sem fins lucrativos Citizens for Responsibility and Ethic de Washington, Jordan Libowitz, disse que o comitê prefere que as pessoas renunciem ou que seus mandatos terminem, do que punir os legisladores em exercício.
Mas para Libowitz, a queixa de Torres e Goldman pode pressionar o comitê a iniciar uma investigação, principalmente depois das mudanças nas regras impostas pelos republicanos da Câmara ao bipartidário Escritório de Ética do Congresso, que podem prejudicar o poder. Para Goldman, as mudanças podem destruir o escritório que normalmente conduz as investigações.