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Os segredos da esfinge Melania Trump

Com uma autobiografia na lista dos mais vendidos, a ex-primeira-dama que raramente aparece dá sua contribuição para a campanha do marido, Donald

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 out 2024, 08h00
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  • Faz parte da tradição que primeiras-damas americanas escrevam uma autobiografia, algumas com mais o que dizer do que outras — enquanto todo mundo lê Minha História, de Michelle Obama, Spoken from the Heart, de Laura Bush, nem foi traduzido para o português. Agora é a vez de Melania Trump, e — surpresa — as memórias da ex-modelo que viria a se tornar a terceira esposa de Donald Trump virou best-seller antes mesmo de seu lançamento, na terça-feira 8. Tamanho interesse se deve, além do fato de ser mulher de quem é, a dois fatores principais. Um é a chegada às livrarias às vésperas da eleição de 5 de novembro, na qual seu marido tem chance de voltar à Casa Branca. Outro é a curiosidade natural que desperta uma pessoa que, tirando um discurso aqui e ali e entrevista ensaiada, raramente pronuncia palavra em público.

    Ninguém vai encontrar reflexões profundas ou segredos cabeludos nas 182 páginas (e 178 fotos) de Melania, entremeadas de trechos de discursos dela mesma e do marido, sem menção ao fato de a bela eslovena ter se casado com um bilionário 24 anos mais velho. A passagem que mais atiçou as redes foi aquela em que defende abertamente o direito ao aborto. “É imperativo garantir que as mulheres tenham autonomia para decidir se querem ter filhos, com base em suas próprias convicções, sem qualquer interferência ou pressão do governo”, escreve. O recado vem em hora mais do que propícia. Trump passou anos se gabando de ter acabado com o acesso à interrupção da gravidez nos Estados Unidos (ao nomear juízes antiaborto para a Suprema Corte) e agora, percebendo que a maioria da população não pensa assim, tenta amenizar sua posição. “Trump pena para conquistar eleitores moderados ou indecisos, e a posição teoricamente mais progressista de Melania pode ajudar a suavizar a imagem dele”, diz o professor de marketing político Craig Agranoff, da Universidade Atlântica da Flórida.

    No mais, Melania derrama elogios ao marido e reprisa as queixas dele em relação à imprensa, aos democratas e a assessores que teriam traído o casal. A célebre jaqueta com os dizeres “Eu não me importo. E você?”, com que visitou a fronteira em meio a uma crise migratória, foi, segundo ela, uma reação aos ataques da grande imprensa a Trump. Sobre a crise em si, vangloria-se de o ter convencido a mudar a regra que separava crianças migrantes de seus pais. “Isso tem que parar”, teria dito a ele, “enfatizando o trauma às famílias”. Sobre os tempos de modelo, defende os trabalhos em que posou nua como “uma forma de arte” e lista alguns contratos com especial orgulho, entre eles “uma imagem maior do que a real em um cartaz na Times Square”.

    Melania nasceu em 1970 na Eslovênia, ainda parte da Iugoslávia comunista. Ela relata no livro fatos de sua infância (começou a modelar aos 6 anos) e adolescência, sugerindo que levou uma vida de luxos, com viagens ao exterior, babá e carrões, dos quais lista alguns: “Ford Mustangs, BMWs alemãs, um Ford Cougar XR-7 e uma coleção de imponentes Mercedes-Benz”. Dá a entender que o avô ficou rico cultivando um novo tipo de cebola, que se tornou popular (hoje, pai e mãe são naturalizados americanos, como ela, ao se casar, em 2006).

    Praticamente ausente da atual campanha de Trump — que nestes dias disparou contra os democratas pela “inépcia” em relação à presença do devastador furacão Milton na Flórida (veja a reportagem na pág. 72), o que logo mobilizou a candidata Kamala Harris, preocupada com os estragos eleitorais —, Melania, com o livro, dá sua contribuição para a volta do marido à Casa Branca, onde nunca se sentiu à vontade. Feito isso, deve retornar à sua toca na Trump Tower, em Manhattan, onde voltou a morar para ficar perto do filho, Barron, que faz faculdade em Nova York. Quer dizer, parece que voltou. Confirmar, ela não confirma.

    Publicado em VEJA de 11 de outubro de 2024, edição nº 2914

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