A onda imigratória na Europa dos últimos quatro anos fortaleceu partidos xenófobos de vários países. Do ponto de vista econômico, o repúdio aos estrangeiros é exagerado: o fenômeno sequer alterou os índices de desemprego. Mas é inegável que a paisagem de muitas cidades europeias mudou.
Segundo um estudo da Federação Europeia de Organizações Nacionais que Trabalham com os Sem-Teto, a Alemanha, país que mais acolheu refugiados, teve um aumento de 150% no número de moradores de rua entre 2014 e 2016. O fenômeno é parecido com o que se viu na Inglaterra (crescimento de 169% entre 2010 e 2017), Irlanda (145% entre 2014 e 2017) e Bélgica (96% entre 2008 e 2016).
Dois contingentes se somam à população sem-teto. O primeiro é o de estrangeiros que têm o pedido de asilo recusado e passam a viver ilegalmente na Europa. O outro grupo é o daqueles que conseguem o asilo e com isso são obrigados a sair dos centros de recolhimento. O problema, então, passa a ser financeiro. “Com o aumento do preço dos aluguéis, principalmente na Alemanha, mais pessoas ficam sem casa”, diz a francesa Chloe Serme-Morin, coautora do relatório.
Outra pesquisa alemã, divulgada em janeiro, mostrou que os crimes violentos subiram 10% entre 2015 e 2016 no estado da Baixa Saxônia, o único que aceitou compartilhar dados sobre a nacionalidade de criminosos e suas vítimas. “Em grande parte, esse aumento pode ser atribuído à chegada de estrangeiros”, diz o sociólogo alemão Dirk Baier, da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique (ZHAW) e coautor do estudo. “Mas nem todos eles estão propensos ao crime na mesma medida.”
Iraquianos, sírios e afegãos têm chance menor de se envolver em crimes contra o patrimônio. Isso acontece porque, como são considerados refugiados de guerra, eles podem mais facilmente obter asilo e estabelecer-se na Alemanha. A perspectiva é outra quando se analisa a situação dos que saem do norte da África, como marroquinos, tunisianos e líbios. Como a maioria deles não consegue asilo, precisa deixar o país. Em geral, são homens solteiros que, frustrados por terem sido impedidos de trabalhar e sem perspectivas, recorrem a roubos e furtos. As vítimas desses crimes são, em sua maioria, alemães. Já os refugiados de guerra são mais propensos, em comparação aos imigrantes econômicos, a cometer estupros, agressões com lesão corporal grave e homicídios. Na maioria dos casos, suas vítimas são outros refugiados. Geralmente são crimes que acontecem nos apinhados centros de acolhimento de aspirantes a asilo.
Os índices de criminalidade na Alemanha, porém, ainda são irrisórios comparados aos brasileiros, onde a taxa de homicídios é quase dez vezes maior do que a do país europeu. Segundo o estudo do ZHAW, a maior parte da população alemã não tem contato direto com os imigrantes e não é vítima deles. Os crimes cometidos por estrangeiros, contudo, têm maior chance de serem relatados para a polícia e de entrar nas estatísticas. “Ao final, o sentimento de insegurança cresce e os alemães pensam que tudo ficou muito pior com a vinda dos imigrantes”, diz Baier.
Os pesquisadores recomendam que as políticas de acolhimento levem em conta a nacionalidade de cada imigrante. Para lidar com os que provavelmente conseguirão asilo, o ideal seria tirá-los das acomodações lotadas de refugiados e oferecer cursos de alemão e treinamento profissional. Homens solteiros deveriam poder trazer o resto da família, pois isso ajuda a afastá-los da delinquência. Para os que não receberão asilo, a saída é oferecer incentivos financeiros para o retorno aos seus países. O Brasil, que está vivendo sua própria crise de refugiados na fronteira com a Venezuela, em Roraima, tem muito a aprender com essas experiências.