Opositor de Putin: processos contra Navalny são suspensos em meio a sumiço
A defesa do ex-advogado perdeu contato com seu cliente há duas semanas; ele foi condenado quase 20 anos de prisão na Rússia

Os tribunais da Rússia suspenderam nesta segunda-feira, 18, a abertura de novos processos criminais contra Alexei Navalny, ex-advogado preso por ter exposto um escândalo de corrupção no Kremlin, após seus advogados perderem contato com o prisioneiro russo e opositor de Vladimir Putin há duas semanas. O seu sumiço das colônias penais do país foi condenado pelas Nações Unidas, que chamaram o episódio de “desaparecimento forçado”.
Ao todo, os juízes bloquearam sete audiências judiciais “até que o paradeiro [de Navalny] [seja] estabelecido”, informou a equipe de defesa. Segundo a assessora de Navalny, Kira Yarmysh, os advogados enviaram pedidos a quase 200 centros de detenção preventiva russos, mas não tiveram sucesso em encontrar o líder da oposição, que cumpre 19 anos de prisão por acusações de fraude, financiamento de atividades extremistas e criação de organização extremista.
Ele, por sua vez, nega envolvimento nos crimes e alega que sua prisão é fruto de motivações políticas. O desaparecimento do homem de 47 anos foi registrado dias após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciar sua campanha para reeleição nas votações de março de 2024. Questionado sobre o paradeiro de Navalny, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que o governo russo não tem “nem a intenção nem a capacidade de rastrear o destino dos prisioneiros”.
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Preocupações com a saúde
O centro da preocupação dos apoiadores de Navalny e de seus familiares está nas condições de saúde do detento russo. No início do mês, o ativista desmaiou devido a más condições sanitárias e nutricionais da prisão de segurança máxima IK-6, onde até então estava preso.
“Estou muito preocupado que as autoridades russas não divulguem o paradeiro e o bem-estar do senhor Navalny durante um período de tempo tão prolongado, o que equivale a um desaparecimento forçado”, disse a relatora especial da ONU sobre a situação dos Direitos Humanos na Rússia, Mariana Katzarova.
“Fiquei sabendo que a audiência sobre as violações dos direitos humanos de Navalny, marcada para sexta-feira [15], não ocorreu. Os advogados de Navalny, que estão impedidos de se encontrar com ele desde 6 de dezembro, foram informados pelo tribunal de que o seu cliente já não se encontra detido na região de Vladimir [localizada a 190 km de Moscou], sem fornecer mais detalhes”, acrescentou.
Em meio às disputas com Putin, Navalny foi envenenado com uma substância neurotóxica característica da era soviética, o novichok, em 2020. Transferido para a Alemanha para receber atendimento médico, entrou em coma por intoxicação, mas se recuperou meses depois. Na última sexta-feira, ele teria sido transportado para uma prisão de “regime especial”, sem que a defesa tenha recebido qualquer informação das autoridades russas.