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ONU: oceanos estão prestes a virar um pesadelo para a humanidade

Novo relatório do IPCC, a ser divulgado em setembro, alerta para os efeitos do aquecimento global sobre cidades costeiras e países insulares

Por Da Redação
Atualizado em 29 ago 2019, 18h18 - Publicado em 29 ago 2019, 18h02

Os oceanos podem se tornar os piores inimigos da humanidade, em escala global, se nada for feito para conter as emissões de gases do efeito estufa, de acordo com relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que será oficialmente apresentado em 25 de setembro, em Mônaco.

Os estoques de peixes podem diminuir, os danos causados pelos furacões podem aumentar, e 280 milhões de pessoas seriam deslocadas pelo aumento do nível do mar, aponta o documento de 900 páginas.

Este será o quarto relatório especial publicado pelo IPCC, vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), em menos de um ano. Os demais diziam respeito ao objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius até o final deste século, em comparação com os níveis anteriores à Revolução Industrial, à gestão das terras e ao sistema de alimentação global.

De acordo com este quarto documento, o aumento do nível do mar pode, eventualmente, deslocar 280 milhões de pessoas em todo o mundo caso o aumento de temperatura chegar a 2 graus Celsius. Com o aumento esperado na frequência de ciclones, muitas megacidades próximas às costas litorâneas e pequenas nações insulares seriam inundadas todos os anos a partir de 2050, mesmo nos cenários otimistas.

“Quando você observa a instabilidade política desencadeada pelas migrações em pequena escala, tremo em pensar em um mundo onde dezenas de milhões de pessoas deixarão suas terras engolidas pelo oceano”, afirma Ben Strauss, presidente e diretor do Climate Central, um instituto de pesquisa com sede nos Estados Unidos.

O relatório também prevê que de 30% a 99% do permafrost, camada de solo congelada teoricamente durante todo o ano, derreterá até 2100 se as emissões de gases de efeito estufa continuarem na taxa atual. O permafrost no hemisfério norte liberará, sob efeito do degelo, uma “bomba de carbono” feita de dióxido de carbono (CO2) e de metano (CH4), acelerando o aquecimento.

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Os fenômenos já em andamento também podem levar a um declínio constante nos estoques de peixes nos oceanos, dos quais muitas pessoas dependem para sua alimentação.

O derretimento das geleiras causado pelo aquecimento global proverá água doce a bilhões de pessoas que dependem dela. Mas vão diminuir com o tempo, segundo o “resumo provisório para os “tomadores de decisões” – capítulo que será discutido linha a linha pelos representantes dos países membros do IPCC, em Mônaco, a partir de 20 de setembro.

Principais emissores pouco comprometidos

Os cientistas atribuíram o aumento de gás carbônico, que contribui em cerca de 64% para o aquecimento global, à queima de combustível fóssil, ao desmatamento e a mudanças no uso da terra
Aumento das emissões de gás carbônico, que contribui em cerca de 64% para o aquecimento global, à queima de combustível fóssil, ao desmatamento e às mudanças no uso da terra (Minden Pictures/Latinstock/VEJA)

Segundo o relatório, o aumento do nível do mar no século XXII “pode exceder vários centímetros por ano”, cerca de cem vezes mais do que acontece hoje. Se o aumento de temperatura for de 2 graus em 2100, será o começo de uma “corrida” na ascensão do mar, alerta Ben Strauss.

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A divulgação do relatório ocorrerá após uma reunião cúpula climática mundial convocada pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em Nova York em 23 de setembro.

Ele deseja obter compromissos mais fortes dos países para reduzir suas emissões de CO2. Com base nas promessas atuais, haverá aquecimento global de 2 a 3 graus até o final do século. Especialistas temem que China, Estados Unidos, União Europeia e Índia — os quatro principais emissores de gases de efeito estufa — apresentem promessas que não estejam à altura dos desafios.

Segundo Michael Mann, diretor do Earth System Science Center da Universidade da Pensilvânia, “os otimistas tecnológicos nos Estados Unidos ainda acreditam que podemos encontrar maneiras de resolver esse problema”, mesmo que “o país não esteja pronto para enfrentar um aumento de um metro do nível do mar até 2100” em algumas cidades, como Nova York e Miami.

Das quatro principais regiões econômicas responsáveis por quase 60% das emissões de combustíveis fósseis, nenhuma parece pronta para anunciar metas mais ambiciosas para reduzir as emissões de suas economias.

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Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, rejeita a política climática de seu antecessor, Barack Obama, e anunciou que seu país abandonará o Acordo de Paris, de 2015. repudia, de antemão, um novo acordo para manter o aumento médio da temperatura abaixo de 2 graus em comparação aos níveis pré-industriais e, tanto quanto possível, a 1,5 grau.

A Índia, por sua vez, está desenvolvendo rapidamente a energia solar, mas continua aumentando sua geração de energia à base de  carvão. A União Europeia está caminhando para uma “meta de neutralidade” de carbono a ser alcançada até 2050, mas vários Estados-Membros relutam em se comprometer.

A China, que emite quase tanto CO2 quanto os Estados Unidos, a União Europeia e a Índia juntos, enviam sinais contraditórios. Mas suas emissões tornaram-se significativas apenas a partir dos anos 1970, enquanto as de americanos e europeus se mantêm altas desde o século XIX.

“A atenção de Pequim está gradualmente se afastando das questões ambientais e das mudanças climáticas”, declara Li Shuo, analista do Greenpeace International. Ele explica isso pela preocupação com a desaceleração da economia chinesa e a guerra comercial com os Estados Unidos.

Xangai, Ningbo, Taizhou e meia dúzia das principais cidades costeiras chinesas são altamente vulneráveis à futura elevação do nível do mar, que deverá subir um metro em relação ao nível global do final do século XX caso o aquecimento global não seja freado.

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