Na tradicional foto dos líderes do G20, neste ano, o presidente Jair Bolsonaro quase desapareceu entre as 38 cabeças reunidas em torno do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, o anfitrião do encontro em Osaka. Com lupa, consegue-se ver Bolsonaro no canto da primeira fila, à direita do líder japonês ou à esquerda de quem vê a foto, quase caindo da imagem. Está ao lado de Emmanuel Macron, da França, e na frente do primeiro-ministro da Espanha, o socialista Pedro Sánchez.
A escolha de quem fica onde na foto oficial não tem nada de aleatório. Os nomes dos líderes estão marcados no chão, e a disposição segue um protocolo desse fórum para evitar dor de cabeça para o país anfitrião e desconforto para o convidado. Na primeira fila estão os chefes de Estado. Na segunda, os chefes de governo. Entre cada grupo, têm posição mais destacada aqueles com mais tempo no posto. Nem sempre dá certo.
Na outra ponta da mesma primeira fila, em Osaka, estava a poderosa Angela Merkel, chanceler da Alemanha. As pontas geralmente são reservadas para chefes de Estado empossados no último ano, como Bolsonaro, e para aqueles que deixarão o poder em breve, como Merkel. Em 2017, em Hamburgo, o americano Donald Trump não gostou nem um pouco de figurar em lugar de tamanho desprestígio, em seu ponto de vista. Macron, a seu lado, ficou na ponta que, neste ano, coube ao brasileiro.
Neste G20 no Japão, certamente a diplomacia dos Estados Unidos bateu o pé para dar a Trump um lugar melhor. A rigor, com 2 anos e cinco meses de governo, o americano ficou mais próximo do anfitrião que o decano Xi Jinping, da China.
Esse não foi um problema para Michel Temer que, em suas três participações do G20, ficou tranquilamente na turma das pontas. Em 2016, em Hangzhou, ele estava no seu primeiro ano de governo e, segundo os rumores nos corredores do G20, ninguém queria ficar perto de um líder empossado depois de um impeachment.
Em 2017, em Hamburgo, era ainda um presidente tampão e, em 2018, em Buenos Aires, estava a dias de entregar a faixa presidencial a Bolsonaro. Dilma Rousseff, vestida em preto e branco, ficara na ponta esquerda, em 2011, no primeiro ano de seu mandato. Mas, em 2013 e em 2014, teve o privilégio de ficar ao lado de Obama.
A regra de ouro é colocar o anfitrião no meio da primeira fila. Em geral, à sua esquerda está o chefe de Estado que organizou o encontro anterior e, à direita, o que se encarregará da reunião seguinte. Abe cercou-se, nessa ordem, do argentino Maurício Macri e do príncipe saudita Mohammed Bin Salman, o mesmo implicado na morte brutal do jornalista Jamal Khashoggi em outubro de 2018 em Istambul.
Mas nem sempre essa última regra é cumprida. O primeiro encontro de líderes das 20 maiores economias, em 2008, deu-se justamente para permitir um debate franco e aberto sobre os impactos da crise econômica detonada dos Estados Unidos – a mais grave desde a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929.
Na foto de família desse encontro, em Washington, o petista Luiz Inácio Lula da Silva ficou do lado direito de George W. Bush, o então líder dos Estados Unidos. Lula e Bush desenvolveram uma amizade improvável ao longo de seus mandatos, e é bem provável que este tenha sido o motivo para estarem juntos e destacados na imagem oficial do encontro. Mas também há de se considerar que o brasileiro, naquele momento, era um mais longevo chefe de Estado, com oito anos de governo.
O mesmo repetiu-se 2010, quando o popular Lula ficou à esquerda do então presidente da Coreia do Sul Lee Myung-bak, embora o Brasil não fosse sediar o G20 um ano depois. E em 2011, em Cannes, França, o então presidente Nicolas Sarkozi posicionou o americano Barack Obama a sua direita.
O certo é que a disposição dos líderes não é tarefa fácil para o setor de cerimonial dos ministérios de Relações Exteriores. O quebra-cabeças muitas vezes espelha as prioridades do país anfitrião na área externa, com seus aliados nas melhores posições e seus desafetos ou de menor interesse no meio e até na terceira fila.
Em geral é nessa turma que estão os representantes dos organismos internacionais convidados, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Banco Mundial. Também ali figuram os líderes mais altos, como foi o caso, neste G20, do primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, de 1,95 de altura.