Obama critica Trump por mentir e adotar política do medo e do rancor
Durante homenagens aos 100 anos do líder sul-africano Nelson Mandela, ex-presidente americano lamenta ainda haver discriminação racial
Em críticas indiretas ao seu sucessor, Donald Trump, o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama denunciou nesta terça-feira 17 a adoção de uma “política do medo e do rancor” e condenou as autoridades que “não param de mentir”. Obama teve o cuidado de não pronunciar o nome de Trump neste seu discurso nas celebrações do centenário de nascimento de Nelson Mandela, em Joanesburgo, na África do Sul.
Suas alusões ao atual presidente americano Trump agitaram o estádio Wanderers, onde Mandela foi homenageado por mais de 10.000 pessoas. “Dada a época incerta e estranha em que vivemos, as notícias nos trazem a cada dia manchetes perturbadoras que fazem nossa cabeça girar”, disse Obama.
Desde que assumiu a Casa Branca, em janeiro de 2017, Trump tem seguido com obsessão uma agenda de destruição dos feitos de Obama. Coerente com suas promessas de campanha, o republicano concentrou-se na eliminação das políticas de Saúde e de imigração de seu antecessor e retirou seu país do Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas e do Acordo Nuclear com o Irã.
“Não consigo encontrar um terreno comum com alguém que diz que a mudança climática não existe, quando todos os cientistas dizem o contrário”, afirmou Barack Obama. “Não é errado insistir que as fronteiras nacionais importam (…), mas isso não pode ser uma desculpa para as políticas de imigração baseadas na raça”, afirmou mais adiante.
Trump causou consternação nos meios políticos americanos, inclusive entre seus aliados republicanos, por virar as costas aos tradicionais aliados dos Estados Unidos e apostar em uma relação com a Rússia de Vladimir Putin. Obama não chegou a abordar essa questão, mas atacou especialmente a compulsão de Trump em mentir – ou, como o atual presidente prefere, criar “fake news”.
“Os políticos parecem rejeitar o conceito de verdade objetiva, as pessoas inventam”, disse ele, provocando gargalhadas na plateia. “Devemos acreditar nos fatos. Negar fatos pode minar a democracia.”
O discurso de Obama foi o ápice das celebrações do centenário do nascimento de Nelson Mandela, ícone global da luta contra o regime do apartheid, falecido em 5 de dezembro de 2013. Condenado a 27 anos de prisão por sua oposição ao regime, Madiba, como é chamado no país, tornou-se em 1994 o primeiro presidente eleito democraticamente na África do Sul. Manteve-se no cargo por um mandato, até 1999.
Mandela e Obama se encontraram uma única vez, em 2005, em Washington. Mas se admiravam mutuamente. Para Obama, trata-se de uma das grandes referências morais, ao lado do ex-presidente americano Abraham Lincoln e do ex-líder dos movimentos pelos direitos civis Martin Luther King.
O presidente americano esteve no funeral de Mandela, em 2013, quando o descreveu como “um gigante da história, que conduziu um povo para a justiça” e como “o último grande libertador do século XX”. Nesta terça-feira, Obama saudou a memória de “um verdadeiro gigante da História”. “A luz de Madiba segue brilhando com muita força”, afirmou.
Lamentou, entretanto, o fato de “o mundo não ter cumprido as promessas” de Madiba, entre as quais destacou o fim da discriminação racial. “A discriminação racial ainda existe na África do Sul e nos Estados Unidos, e a pobreza explodiu”, denunciou.
O racismo ainda está presente na África do Sul, considerado pelo Banco Mundial como o mais desigual do mundo. Coincidindo com o centenário de seu nascimento, a Fundação Mandela pediu aos sul-africanos que “agissem e inspirassem mudanças” em nome de “Madiba”.
Obama aproveitou seu discurso para parabenizar a seleção da França por sua vitória na Copa do Mundo 2018 e, em especial, pela diversidade de identidades dessa equipe de futebol. “Todos esses caras não parecem, na minha opinião, gauleses. Eles são franceses”, disse ele aos aplausos.
Entre outras atividades, a celebração dos 100 anos de Mandela incluirá competições esportivas, a publicação de testemunhos de pessoas que o conheceram, a impressão de uma cédula com sua imagem e um grande show em dezembro, em Johannesburgo, com estrelas como Beyoncé, Jay-Z e Pharrell Williams.
(Com AFP)