O exército de Israel ordenou que os moradores da Cidade de Gaza, no norte do território ocupado por palestino, abandonem suas casas e fujam para o sul da Faixa de Gaza em até 24 horas, um sinal de que os militares israelenses podem iniciar uma invasão terrestre a qualquer momento. Na quinta-feira 12, o Estado judeu revelou que seu principal objetivo na operação será destruir os extensos labirintos de túneis subterrâneos construídos pelo Hamas.
“Pense na Faixa de Gaza como uma camada para os civis e depois outra camada para o Hamas. Estamos tentando chegar a essa segunda camada que o Hamas construiu”, disse Jonathan Conricus, porta-voz das Forças de Defesa da Israel (FDI), por meio de um vídeo divulgado na plataforma X, antigo Twitter.
“Estes não são bunkers para civis de Gaza. São apenas para o Hamas e outros terroristas, para que possam continuar a disparar foguetes contra Israel, a planejar operações, a lançar terroristas contra Israel”, acrescentou o militar.
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Os corredores construídos pela facção palestina não são fáceis de identificar. A maioria se protege sob escolas, templos religiosos, casas e edifícios residenciais na cidade em guerra.
Os últimos dados disponíveis sobre a possível extensão da estrutura subterrânea são de 2021, quando Israel disse ter destruído 100 quilômetros de túneis em ataques aéreos. Na ocasião, o Hamas afirmou que os estragos representavam apenas 5% de um total de 500 quilômetros de comprimento em escavações.
Caso a afirmação seja real, a rede seria maior que a malha metroviária de Londres, que tem 400 quilômetros de extensão, e teria cinco vezes o tamanho da rede metroviária da cidade de São Paulo. Isso enquanto a Faixa de Gaza tem apenas 41 quilômetros de comprimento e 10 quilômetros de largura.
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Os túneis começaram a ser construídos em 2005, antes mesmo de Israel retirar seus soldados e colonos da Faixa de Gaza. Mas ganharam mais notoriedade sob comando do Hamas, a partir de 2006, quando o grupo venceu as eleições parlamentares palestinas contra o mais moderado partido Fatah, que teve sua área de atuação restrita à Cisjordânia.
A rede subterrânea tornou-se o meio ideal para o contrabando de bens comerciais, combustíveis e armamento. No seu auge, havia quase 2.500 caminhos diferentes na fronteira com o Egito.
Quando Israel reduziu o isolamento imposto às fronteiras terrestres de Gaza, depois de 2010, o uso dos túneis passou a fazer menos sentido. Um tempo depois, autoridades egípcias inundaram e destruíram várias das instalações.
As que permaneceram, contudo, foram aperfeiçoadas internamente, bem como na fronteira com o território israelense. Apesar de rudimentares, acredita-se que os túneis dentro de Gaza sejam equipados para que os terroristas do Hamas possam se esconder por muito tempo e de forma sustentada, contando com transporte e linhas de comunicação.
Em entrevista à emissora britânica BBC, Daphné Richemond-Barak, especialista em guerra subterrânea da Universidade Reichman, em Israel, disse que os túneis são grandes o suficiente para que alguém possa se movimentar livremente e ficar em pé. Além disso, sob a terra há centros de comando e controle, equipados com eletricidade, iluminação e trilhos.
Israel acredita que o Hamas tenha estabelecido linhas ainda mais enraizadas e sólidas até 30 metros abaixo da superfície, usando dinheiro desviado dos pacotes de ajuda humanitária internacional para a Cidade de Gaza. Os militantes também teriam usado materiais de construção que deveriam ser destinados a reerguer casas destruídas em outros conflitos.
No ataque do último sábado, no qual os terroristas do Hamas mataram ao menos 1.300 israelenses, a maioria deles civis, e fez mais 150 de reféns, o grupo pode ter usado um túnel na fronteira não identificado pela inteligência israelense, que no final de 2021 instalou sofisticados sensores de detecção de redes subterrâneas.