O que o rei Charles III quer evitar na cerimônia de coroação
Por trás de todo o glamour das coroações na Abadia de Westminster, há acontecimentos que poderiam ser cenas de novela
As coroações na Abadia de Westminster, em Londres, remontam a quase mil anos e, por trás de todo o glamour da cerimônia, os eventos têm acontecimentos que poderiam ser cenas de novela. Entre os “fiascos” já ocorridos e que o rei Charles III com certeza vai querer evitar estão um incêndio culposo, um arcebispo trapalhão e uma esposa rejeitada batendo na porta da Abadia.
A tradição das coroações foi iniciada com William, o Conquistador, no dia de Natal de 1066. William fez questão de unir as tradições saxões locais com as normandas de sua terra natal e seu firme controle do poder as solidificou na cultura inglesa.
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Especialistas afirmam que a coroação de William “deu o tom” para todas as seguintes, porém o evento foi considerado um desastre. A atmosfera dentro e fora da Abadia, onde o inimigo derrotado do rei havia sido morto meses antes, era tensa e pesada. Quando os que estavam no local proclamaram “Deus salve o Rei”, os guardas que estavam do lado de fora acreditaram que uma tentativa de assassinato estava em andamento e prosseguiram para incendiar diversos prédios da região.
Mais de sete séculos depois, a coroação de George IV, em 1821, também teve o seu próprio drama. O rei decidiu excluir sua esposa, a rainha Caroline, do serviço por “não querer nada com ela”. George foi obrigado a casar com Caroline, sua prima alemã, em troca de saldar grandes dívidas. Ele já havia se casado com outra mulher, Maria Fitzherbert, mas essa união foi considerada ilegal por não ter o consentimento do seu pai.
Relatos contam que George teria chegado bêbado ao casamento e historiadores acreditam que o casal não passou mais de duas noites juntos, período no qual conceberam um herdeiro. Após isso, ele se recusou a morar com a mulher e tentou buscar o divórcio com o Parlamento. Caroline foi até submetida a um julgamento investigando seu suposto adultério, durante o qual ela não teve permissão para falar. Porém, como era muito popular com o público, o casamento foi mantido.
Na sua coroação, George ordenou que os guardas das entradas da Abadia impedissem a entrada de Caroline, já que ele não gostaria de ver ela sendo coroada. Após tentar todas as entradas do local, a rainha desistiu e voltou para casa. Um mês depois, ela morreu, o que impactou negativamente durante todo o reinado de George.
Outra cerimônia de coroação caótica foi a da famosa rainha Victoria, a monarca que ajudou a consolidar o Reino Unido como uma grande potência no cenário mundial. Além de fazer alianças com diversos monarquistas da Europa, ela também comandou uma expansão maciça do Império Britânico e foi proclamada imperatriz da Índia.
Apesar do poder da monarca, quando foi coroada, com apenas 18 anos, em 1837, ela não esperava que o evento seria um desastre. Victoria passou cinco horas em agonia depois do arcebispo de Canterbury forçar o anel de coroação no dedo errado. A própria rainha chegou a comentar o caso falando que teve “a maior dificuldade em retirar ele novamente, o que finalmente consegui fazer, mas não sem muita dor”.
Relatos históricos contam que toda a cerimônia foi mal ensaiada e o arcebispo parecia completamente confuso com os ritos. Após deixar a Abadia, Victoria precisou ser levada às pressas de volta ao local porque o cerimonialista tinha esquecido da seção do serviço que a tornava de fato rainha. Não bastando toda a confusão, durante a apresentação dos lordes de Londres para a nova monarca, um deles, Lord Rolle, tropeçou e caiu em um lance de escadas.
O lado positivo dessas histórias para o rei Charles III é que erros de coroação não são necessariamente um sinal de destruição futura para os monarcas. Na verdade, o efeito é contrário. As confusões só passam a ser vistas como presságios depois que o reinado se torna um fracasso.