O mistério por trás do desaparecimento de poderosos empresários na China
O bilionário chinês Bao Fan já está desaparecido há mais de duas semanas, somando-se à lista de cinco outros magnatas proeminentes
O desaparecimento do bilionário chinês e CEO do banco China Renaissance Holdings, Bao Fan, colocou os holofotes mais uma vez sobre a repressão do governo chinês a empresários proeminentes. O banqueiro fundou a empresa em 2005 e já está desaparecido há duas semanas.
Em um comunicado ao mercado de ações neste domingo 5, a China Renaissance Holdings afirmou que Bao estava cooperando com as autoridades chinesas em “uma investigação”. A empresa não forneceu mais detalhes sobre o paradeiro ou condições do bilionário, e seu desaparecimento levantou preocupações sobre uma possível repressão ao setor de finanças no país.
Esta não é a primeira vez que um magnata do mercado de ações desaparece na China. Nos últimos anos, cerca de meia dúzia de bilionários chineses sumiram.
Em 2015, foi a vez do fundador do Fosun Group, Guo Guangchang, apelidado de Warren Buffet da China, sumir por alguns dias. Dois anos depois, o empresário sino-canadense Xiao Jianhua foi abduzido em Hong Kong, para ser julgado em Pequim por “manipular mercados de ações e futuros” e “oferecer subornos” – no ano passado, foi condenado a 13 anos de prisão.
Em 2020, o fundador do Alibaba , Jack Ma, também desapareceu dos olhos do público por vários meses. Na época, ele se preparava para lançar o IPO da empresa de pagamentos digitais Ant Financial.
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Em setembro do ano passado, o presidente do China Renaissance, Cong Lin, foi preso após uma investigação sobre seu trabalho na divisão de leasing financeiro no Banco Industrial e Comercial da China, informou a agência de notícias econômicas Caixin.
Essa prática do Partido Comunista Chinês (PCC) é considerada “padrão”. A ONG internacional Human Rights Watch afirmou que o método já foi usado com muitas pessoas, mas estes desaparecimentos vêm à tona porque os magnatas são “grandes nomes”.
Alguns especialistas dizem que Pequim reprime os empreendedores para garantir que suas empresas ou práticas comerciais estejam alinhadas com as prioridades do PCC. Dexter Robert, pesquisador do think tank americano Atlantic Council, avalia que o presidente da China, Xi Jinping, acredita que “é assim que o sistema deve funcionar”.
“Embora os empreendedores obtenham lucros, paguem impostos e contratem pessoas, eles também precisam garantir que seus negócios estejam alinhados com os objetivos do PCC”, escreveu em artigo.
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Parte dessas repressões são oriundas de preocupações do governo sobre o controle de dados confidenciais. Para o líder chinês, quando empresas privadas se tornam cada vez mais poderosas, desafiam as estatais e desrespeitam o PCC.
O risco é que a repressão chinesa a empresários proeminentes diminua a confiança dos investidores no mercado chinês. Após o desaparecimento de Bao Fan, as ações da empresa listadas em Hong Kong caíram 29%, antes de subirem 2,3% nesta segunda-feira 6.
Também há a sensação de que empresários de diferentes nacionalidades não estão a salvo, já que não há garantia de que eles vão ser poupados das repressões de Pequim. Com a economia ainda se recuperando das longas restrições contra a Covid-19, essas medidas podem ser extremamente prejudiciais para a China.