O milagre da comunicação: como o Vaticano virou um case de mídia global
Mesmo sem fumaça branca, a comunicação do Vaticano já é um espetáculo à parte — e tem muito do papa Francisco nisso

Enquanto a fumaça branca não sobe da Capela Sistina, há um outro “habemus” em curso: o da comunicação digital. Nunca antes na história do Vaticano se falou tanto, com tanta gente e em tempo real sobre os bastidores da Igreja. E isso tem nome: papa Francisco.
Desde que iniciou seu pontificado, em 2013, Jorge Mario Bergoglio trouxe não só um novo tom pastoral, mas também uma linguagem digital inovadora. Sob sua liderança, o Vaticano profissionalizou sua presença nas plataformas sociais, humanizou suas transmissões e tornou suas mensagens mais acessíveis — tanto para os fiéis quanto para aqueles fora da Igreja.
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Hoje, a Santa Sé opera com uma estrutura de comunicação gigante. O Vatican Media, braço oficial da cobertura institucional, transmite imagens ao vivo com qualidade de TV internacional. Nas redes sociais, o alcance é gigantesco: a conta oficial do papa Francisco no X (ex-Twitter), @Pontifex, é publicada em nove idiomas e já ultrapassa 53 milhões de seguidores. No Instagram, @franciscus passa dos 10 milhões.
#RezemosJuntos para que o uso das novas tecnologias não substitua as relações humanas, respeite a dignidade das pessoas e ajude a enfrentar as crises do nosso tempo. #IntençãodeOração @clicktopray_pt #ClickToPray @coronationmedia @vaticanihd pic.twitter.com/hCR27QixB7
— Apostolica Sedes Vacans (@Pontifex_pt) April 1, 2025
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Durante o período de sede vacante (quando não há papa), a @Pontifex não é desativada, mas alterada. O nome passa a ser Sede Apostólica Vacante, como ocorreu após a renúncia de Bento XVI, garantindo a continuidade da presença institucional nas redes sociais até que o novo sucessor seja eleito. A expectativa é que o novo Santo Padre receba uma conta exclusiva no Instagram, que certamente atrairá milhares de seguidores imediatamente.
Entretanto, os protagonistas dessa estratégia não se limitam apenas aos bastidores. Muitos cardeais também passaram a compartilhar suas reflexões e vivências em tempo real, com o intuito de dar aos fiéis uma visão mais transparente do que acontece durante o conclave. Nunca antes a Igreja Católica foi tão acessível.
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Apesar da forte presença digital, Francisco manteve um compromisso com os jornalistas. Desde o início de seu pontificado, cultivou uma relação de respeito mútuo com a imprensa. Durante suas internações e momentos críticos de saúde, fez questão de garantir que os profissionais fossem informados imediatamente, sem intermediários. Esse tipo de transparência não é apenas uma questão de comunicação, mas de coerência com a missão de sua liderança.
Além disso, o papa sempre se manteve atento aos avanços tecnológicos e suas consequências éticas. Ele discutiu abertamente sobre os desafios da inteligência artificial, defendendo o uso dessas tecnologias de maneira responsável e humana, sem comprometer a dignidade das pessoas. O pontífice alertou que, se mal aplicadas, essas inovações poderiam acentuar desigualdades sociais e aumentar a divisão entre diferentes grupos.
Francisco foi alvo de fake news: de falas manipuladas a imagens falsas, como a foto em que ele usava um casaco “puffer branco”, gerada por inteligência artificial. Francisco reagiu com bom humor, mas com seriedade. “As redes podem unir, mas também ferir. O discernimento é essencial”, disse em uma de suas homilias.

Se hoje o mundo acompanha a espera por um novo papa em tempo real, com vídeos, traduções simultâneas e bastidores quase cinematográficos, é porque o milagre da comunicação já aconteceu. E, como todo milagre, começou com fé – e uma boa conexão de Wi-Fi.