Número de desertores norte-coreanos para Coreia do Sul triplicou em 2023
Disparo é reflexo da flexibilização das fronteiras após bloqueios impostos pela pandemia de Covid-19

O Ministério da Unificação da Coreia do Sul informou nesta quinta-feira, 18, que o número de desertores norte-coreanos que chegaram ao país triplicou, para 196 pessoas, em 2023. O disparo, ainda menor que os registros antes da pandemia de Covid-19, é reflexo da flexibilização das fronteiras após os bloqueios impostos para controle pandêmico, de forma a permitir que diplomatas, mulheres e estudantes conseguissem cruzar a divisa.
Em meio às restrições pandêmicas, o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, teria ordenado que militares atirassem em suspeitos de fuga. Em 2021, somente 63 pessoas tiveram sucesso na perigosa empreitada, contagem 90% mais baixa quando comparada a 2019, ano em que 1.047 cidadãos se deslocaram para a Coreia do Sul. A estimativa permaneceu baixa em 2022, com 67 desertores. A máxima histórica pertence a 2009, quando 2.914 fizeram a travessia.
Segundo Seul, a escalada sinaliza o progressivo descontentamento da população com o regime de Kim. Entre aqueles que chegaram a Seul no ano passado, 13 fugiram pelo mar, arriscando a segurança pessoal para fugir da “piora das condições na Coreia do Norte”. Das 196 pessoas, 80% são mulheres e ao menos 10 eram da “classe de elite”. A maioria pertence à faixa etária dos 20 aos 30 anos.
“Diplomatas norte-coreanos, outros funcionários e estudantes residentes no exterior foram instruídos a retornar no ano passado, quando a situação pandêmica entrou em uma nova fase”, disse um funcionário do ministério ao jornal Korea Times. “Muitos devem ter considerado inaceitável depois de experimentarem como era viver no mundo livre, sabendo que a situação econômica ainda piorou e os controles internos foram reforçados na Coreia do Norte.”
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Histórico de deserção
Acredita-se que mais de 31 mil norte-coreanos desertaram para a Coreia do Sul desde 1950, utilizando de países terceiros para a passagem. Poucas pessoas se atrevem a atravessar a fronteira marítima ou trespassar a zona desmilitarizada entre os países. As motivações incluem a procura por melhores condições de vida e pela perspectiva de liberdade.
A participação de diplomatas acompanha a decisão de Kim Jong-un, emitida no ano passado, de reduzir a presença norte-coreana no exterior. As deserções de membros do alto escalão são fonte de vergonha para o governo há anos. Em 2016, o vice-embaixador da Coreia do Norte no Reino Unido, Thae Yong-ho, se declarou “doente e cansado” de Pyongyang e fugiu para Seul, onde foi eleito para a Assembleia Nacional pelo partido governista.