Novo premiê da Eslováquia diz que vai interromper ajuda militar à Ucrânia
Esquerdista Robert Fico afirma ainda que não votará a favor de sanções contra Rússia, novo abalo no apoio incondicional da Europa que começou com Polônia
O novo primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, disse nesta quinta-feira, 26, que não vai mais enviar ajuda militar para a Ucrânia, nem votar a favor de sanções contra a Rússia, reafirmando suas promessas de campanha na área de política externa. A fala ocorreu em uma reunião da União Europeia, e reforça o abalo ao apoio incondicional europeu à causa ucraniana, já indicado anteriormente pela Polônia.
“Nós todos vemos que não existe uma solução militar [para o conflito]”, disse Fico na reunião em Bruxelas, onde os líderes do bloco europeu discutem um plano de até 50 bilhões de euros (cerca de R$ 260 bilhões) de ajuda, distribuída ao longo de anos, aos ucranianos.
Sobre as sanções contra Moscou, o premiê eslovaco declarou que não votará a favor de nenhum novo bloqueio antes de avaliar os possíveis impactos para sua economia. Desta maneira, se aproxima da Hungria de Viktor Orbán, de extrema-direita, a quem ele elogiou como um político que “defende os interesses do seu país”.
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O esquerdista Fico, que voltou ao poder pela quarta vez, havia assumido a cadeira na véspera. Há quase um mês, seu partido Smer (Direção) venceu a eleição parlamentar do país. Para conseguir a maioria no Parlamento, porém, ele precisou se aliar com duas siglas, a principal dela o Hlas (Voz), de centro-esquerda e a favor de continuar o apoio de Bratislava a Kiev – o que não parece o ter impedido de adotar uma postura pró-Rússia.
Sua campanha eleitoral foi marcada por promessas de interromper com a ajuda militar à Ucrânia, tornar a política externa independente dos parceiros da União Europeia e dos Estados Unidos, e adotar uma postura linha-dura para impedir a entrada de imigrantes. O país recebeu um influxo de quase 110 mil refugiados ucranianos desde o início da guerra, em fevereiro 2022.
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Fico também se manifestou contra o liberalismo político, as atividades de organizações não governamentais (ONGs) e os direitos para pessoas transexuais.
Segundo o Instituto para a Economia Mundial de Kiel, com sede na Alemanha, a Eslováquia era uma das principais apoiadoras da Ucrânia. O levantamento do centro de pesquisas indica que a pequena nação no Leste Europeu cedeu 1,3% de seu Produto Interno Bruto (PIB) a Kiev desde a invasão russa, ficando em sexto lugar no ranking de apoio em termos relativos.
Integrante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) desde 2004, a nação substituiu nas últimas décadas seu arsenal da era soviética – era antiga parte da Tchecoslováquia comunista – por um avançado estoque ocidental. Assim, pôde enviar à Ucrânia tanques T-72, sistemas antiaéreos S-300 e caças MiG-29.
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Antes da Eslováquia, a Polônia, parceira de primeira hora de Kiev, anunciou simultaneamente a proibição da importação de grãos vindos da Ucrânia, uma fonte de renda crucial para o país, e a suspensão do envio de armas para seu Exército.
A origem da rixa está na competição de preços de cereais, afetada pela entrada no mercado polonês dos produtos ucranianos mais fartos e baratos — uma briga que se repete na Hungria e na Eslováquia.
A União Europeia, acatando a preocupação dos três países, havia determinado que o corredor permaneceria aberto, mas sem vendas para eles, mas depois suspendeu a proteção e a Polônia decidiu desafiar a decisão. Tentando acalmar os ânimos, o presidente Andrzej Duda afirmou que a produção da Ucrânia poderá seguir passando — sem parar — pelo território polonês.
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Porém, o Parlamento polonês acabou de passar por uma reformulação, devido às eleições no último dia 15. O partido de Duda, o radical PiS (Lei e Justiça), teve a maior parte dos votos, porém sem alcançar a maioria dos assentos para formar um governo. Uma de suas siglas aliadas, também de extrema direita, foi mal nas urnas, o que abriu caminho para a oposição ascender ao poder.
Liderada pelo KO (Coalizão Cívica), a aliança centrista pode recolocar o ex-premiê Donald Tusk no cargo. Isso reverteria o curso anti-Ucrânia que o PiS vinha tomando. Mas, por enquanto, o cenário ainda está indefinido, porque Duda havia indicado que daria preferência ao partido com mais votos para tentar formar um governo.