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‘Nixoniano’? Demissão de diretor do FBI é comparada a Watergate

James Comey, afastado do cargo por Donald Trump, era responsável por investigar conexões da campanha republicana com a Rússia

Por Daniela Flor Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 Maio 2017, 14h09 - Publicado em 10 Maio 2017, 14h23

Assim como grande parcela do círculo político de Washington, o diretor do FBI, James Comey, foi pego de surpresa pela notícia de sua demissão, na noite de terça-feira. Segundo o jornal The New York Times, ele discursava a funcionários da polícia quando viu a chamada em uma TV atrás de si – incrédulo, achou se tratar de uma “pegadinha”. Rapidamente, a decisão do presidente Donald Trump passou a levantar comparações com um acontecimento de 45 anos atrás: o escândalo de Watergate.

Ao contrário do magnata, o republicano Richard Nixon, que renunciou antes de um iminente impeachment, nunca afastou o chefe do FBI. A suposta semelhança, porém, faz referência ao dia 20 de outubro de 1973 – o “massacre de sábado à noite” –, quando demitiu um promotor especial independente que investigava o caso Watergate. Archibald Cox era responsável por analisar a ligação do presidente com o assalto à sede do Comitê Nacional Democrata.

O ex-diretor Comey soube que seu afastamento não era uma brincadeira infeliz quando uma carta chegou à sede do FBI. Nela, o presidente diz que a demissão foi recomendada pelo procurador-geral Jeff Sessions e escreve: “Apesar de eu apreciar que você me informou, em três ocasiões, que não estou sob investigação, concordo com o julgamento do Departamento de Justiça de que você não é efetivamente capaz de comandar o escritório”. Sua justificativa copia a sugestão de Sessions, em carta a Trump, de que uma “nova liderança” é necessária para restaurar a confiança do público.

Assim como Cox tinha nas mãos o destino de Nixon, Comey era uma ameaça a Trump. Era dele a responsabilidade de verificar potenciais contatos da campanha do republicano ao governo da Rússia que, segundo a CIA, tentou interferir em seu favor na eleição de novembro. Comitês de inteligência do Congresso já investigavam o envolvimento russo no pleito quando, em março, Comey fez sua afirmação mais categórica sobre o assunto: “O FBI está investigando a natureza de qualquer ligação entre indivíduos associados à campanha de Trump e o governo da Rússia e se houve coordenação entre a campanha e os esforços russos”.

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A demissão de Comey levantou dúvidas não só pela motivação, mas também por ser inusitada: ele estava há três anos em um cargo que costuma ser ocupado por uma década. O mandato longo estabelecido pelo Congresso serve, exatamente, para evitar envolver o diretor em pressões políticas. Comey foi o segundo da história a ser afastado antes do prazo – o primeiro foi William S. Sessions, por Bill Clinton, em 1993, acusado de uso impróprio de dinheiro público. Com a saída de Comey, o FBI passa a ter um coordenador interino, até que o presidente faça uma indicação, que precisa ser confirmada pelo Senado.

Nixoniano

A desconfiança no entorno da demissão de Comey foi suficiente para iniciar a comparação com o “massacre de sábado” por parte de políticos democratas e, claro, das redes sociais. “Isto é nixoniano (nixonian)”, declarou Bob Casey, senador democrata pela Pensilvânia. Patrick Leahy, representante por Vermont, repetiu a expressão e disse que a demissão ocorreu “em meio a uma das investigações de segurança nacional mais críticas da história”.

As referências ao Wartergate viralizaram de tal forma que a Biblioteca Richard Nixon, na Califórnia, jogou uma indireta: “CURIOSIDADE: o presidente Nixon nunca demitiu um diretor do FBI #DiretordoFBI #nãoNixoniano”

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Mesmo em menor número, republicanos também se viraram contra o presidente. John McCain, ex-adversário de Trump em primárias, disse que o “timing da demissão é profundamente preocupante”. O mesmo foi dito por Richard Burr, presidente do comitê de inteligência do Senado, que considera o afastamento “uma perda para o FBI e para a nação”.

No editorial desta quarta-feira, o Times ressaltou preocupação com o futuro de investigações imparciais e com “a credibilidade da democracia mais antiga do mundo”. “O presidente Trump colocou grave dúvida sobre a viabilidade de qualquer investigação sobre o que pode ser um dos maiores escândalos políticos do país”, publicou o jornal.

Em resposta às críticas, Trump afirmou que Comey fazia um trabalho ruim e, por isso, será substituído por “alguém que fará melhor” e trará de volta “o espírito e o prestígio do FBI”. Mais uma vez, o presidente reclamou da oposição via Twitter. Diversos democratas pediram o afastamento de Comey durante a campanha presidencial, por ter reaberto a investigação de e-mails do partido pouco antes do pleito. Até hoje, o ex-diretor é citado nominalmente por Hillary Clinton como uma das razões de sua derrota. “Os democratas disseram algumas das coisas mais horríveis sobre James Comey, incluindo o fato de que deveria ser demitido, e agora se fazem de tristes”, escreveu Trump no Twitter.

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