Em sua marcha autoritária, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, segue a cartilha dos ditadores: escolher inimigos, inclusive os que não são, para galvanizar a opinião pública. No sábado 2, foi a vez de o Brasil entrar na mira. Ele acusou o governo brasileiro, amigão de todas as horas, de empreender uma “agressão descarada e grosseira” ao promover uma “campanha sistemática que viola os princípios das Nações Unidas”. No dia seguinte, deu-se outra ofensiva. A agência de notícias estatal publicou uma charge em que o Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, estaria atendendo aos interesses dos Estados Unidos. Celso Amorim, ex-chanceler e atual assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, foi declarado persona non grata. A crise conjugal começou em julho, quando Lula sugeriu a realização de novo pleito presidencial. Há duas semanas agravou-se, com o veto do Planalto à entrada da Venezuela no Brics ampliado. Maduro chegou a ir pessoalmente ao evento da organização, em Kazan, na Rússia, numa tentativa de forçar a barra, mas voltou para Caracas de mãos vazias. Conhecido pela habilidade em navegar na intrincada geopolítica global, o Itamaraty evitou o confronto direto. E só se manifestou depois de a polícia bolivariana publicar uma foto com a bandeira do Brasil e a frase: “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”. Notórios por sempre interceder em favor do regime chavista, Lula e o PT vivem uma saia justa, que um dia despontaria, claro, diante do muy amigo, que ri sabe-se lá do quê.
Publicado em VEJA de 8 de novembro de 2024, edição nº 2918