Mulheres desafiam Talibã e protestam por igualdade em Cabul
Manifestação ocorre um dia depois de ato semelhante em Herat, no oeste do país; mais ações são esperadas nos próximos dias
Mulheres ativistas realizaram um protesto em Cabul, no Afeganistão, nesta sexta-feira, 3, demandando igualdade de direitos e maior participação na política do país. Trata-se de um desafio sem precedentes ao grupo extremista Talibã, que defende uma visão retrógrada da sharia, a lei islâmica, em que mulheres não podem trabalhar, sair de casa sem uma figura masculina ou estudar.
Segurando cartazes e cantando slogans, o grupo, chamado de Rede de Participação Política Feminina, se reuniu em frente ao Ministério das Finanças e exigiu um envolvimento no governo afegão e uma lei constitucional.
O ato foi filmado e divulgado ao vivo nas redes sociais pelo próprio grupo. Nele, é possível ver um breve confronto entre um guarda do Talibã e uma das manifestantes. Em agosto, um grupo de manifestantes foi reprimido com violência após protesto na cidade de Jalalabad.
O Talibã discute no momento organização do novo governo, mas já deixou claro que mulheres não poderão ocupar cargos públicos.
Os extremistas afirmaram em mais de uma oportunidade que elas poderão voltar a estudar nas universidades e que terão a possibilidade de trabalhar em algumas profissões específicas.
A população teme um retorno das políticas severas semelhantes ao primeiro governo Talibã , entre 1996 e 2001, que excluiu as mulheres da vida pública.
O porta-voz do grupo, Zabiullah Mujahid, pediu recentemente para que as mulheres fiquem dentro de suas casas de forma temporária, uma vez que os soldados ainda não foram treinados “de maneira adequada”.
A manifestação em Cabul acontece um dia depois de outro ato parecido na cidade de Herat, no oeste do país. Nele, um outro grupo de manifestantes, todas do sexo feminino, seguravam cartazes dizendo que nenhum governo permanece de pé por muito tempo sem o apoio das mulheres.
“Os direitos conquistados nestes 20 anos não podem ser esquecidos ou ignorados. Fui forçada a ficar em casa pelo crime de ser estudante há duas décadas e agora, vinte anos depois, pelo crime de ser professora e mulher”, disse Lina Haidari, uma das manifestantes.
São esperados novas ações nos próximos dias em outras províncias espalhadas pelo Afeganistão, de acordo com uma das organizadoras do evento.
Apesar dos protestos, a situação ainda é muito incerta no país. Uma ativista contou à rede americana CNN que não participou do ato em Herat devido a ameaças de represálias feitas pelos talibãs.
Em julho, membros do grupo invadiram um banco em Kandahar e exigiram que nove mulheres parassem de trabalhar, sendo substituídas por parentes do sexo masculino.