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Mudanças climáticas farão milhões de vítimas, diz relatório da ONU

Documento de painel de climatologistas alerta que efeitos vão transformar o mundo mesmo se emissões de gases causadores do efeito estufa diminuírem

Por Da Redação Atualizado em 23 jun 2021, 16h26 - Publicado em 23 jun 2021, 16h17

Um esboço de um relatório do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC), um órgão de caráter consultivo da Organização das Nações Unidas para assuntos relacionados ao clima, indica que as mudanças climáticas decorrentes de ações humanas devem afetar fundamentalmente a vida na Terra já dentro dos próximos 30 anos, mesmo se houver diminuição de emissões de gases causadores do efeito estufa. As mudanças sociais feitas agora irão determinar se nossa espécie irá prosperar ou simplesmente sobreviver nas próximas décadas, alerta o painel.

O documento, obtido com exclusividade pela agência de notícias AFP, afirma que um aumento da temperatura superior a 1,5 ºC já poderia provocar “progressivamente consequências graves durante séculos,  irreversíveis em alguns casos”.

Nas áreas urbanas, cerca de 350 milhões de pessoas serão expostas a escassez de água por conta de secas severas com 1,5ºC. Se subir para 2ºC, o número de pessoas vai para 420 milhões. O aumento de meio grau também significa que 420 milhões de pessoas a mais estarão expostas a ondas de calor extremas e possivelmente letais. 

O estudo de 4.000 páginas, o mais abrangente já feito sobre o assunto, será publicado em fevereiro de 2022 e traça um panorama de como as mudanças climáticas devastam o planeta, com riscos como extinção de espécies, disseminação de doenças, calor insustentável à vida e colapso dos ecossistemas, entre outros.

No entanto, o limite está mais perto do que se pensava, e consequências duras geradas por décadas de poluição desenfreada são incontornáveis no curto prazo.

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“O pior ainda está por vir, afetando a vida de nossos filhos e netos muito mais do que as nossas”, diz o documento.

Os desafios citados são sistêmicos e “parte do próprio tecido da vida diária”. Além disso, são injustos: os menos responsáveis pelo aquecimento global sofrerão desproporcionalmente, destaca o texto.

Um estudo da Oxfam publicado em setembro de 2020 revelou que o 1% mais rico da população mundial emite o dobro de gases causadores do efeito estufa que a metade mais pobre do planeta.

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Em um período de 25 anos, de 1990 a 2015, “o 1% mais rico da população (quase 63 milhões de pessoas) foi responsável por 15% das emissões acumuladas, ou seja, o dobro em comparação à metade mais pobre da população mundial”. Aumentando o escopo, os 10% mais ricos da população mundial (630 milhões de pessoas) foram responsáveis por 52% das emissões acumuladas de CO2.

Durante esses anos, as emissões globais de CO2, responsáveis pelo aquecimento global, aumentaram quase 60%. E os grupos que “mais sofrem esta injustiça são os menos responsáveis pela crise climática: os mais pobres e as gerações futuras”, publicou a ONG.

Lições

Em meio a esse cenário, há diversas “lições” principais no esboço do relatório, que passou por revisões e provavelmente não sofrerá alterações antes de sua publicação.

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Há uma década, cientistas acreditavam que limitar o aquecimento global a 2ºC acima de níveis pré-industriais seria o suficiente para salvaguardar nosso futuro. A meta está, por exemplo, no Acordo de Paris, de 2015, adotado por quase 200 países. Nos níveis atuais, há uma progressão para 3ºC, nos melhores cenários.

Enquanto modelos mais antigos previam que não veríamos mudanças climáticas capazes de alterar a Terra antes de 2100, agora é provável que dezenas de milhões de pessoas enfrentem fome até 2050, e 130 milhões a mais entrem na pobreza extrema dentro de uma década caso a desigualdade se aprofunde.

Em 2050, cidades costeiras na “linha de frente” da crise climática terão centenas de milhões de pessoas em risco de enchentes e tempestades cada vez mais frequentes.

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Embora majoritariamente focado nos pontos negativos, o IPCC destaca que há muito a ser feito para evitar os piores cenários e se preparar para impactos que já não podem mais ser evitados. Como exemplo, o documento cita a conservação e restauração dos chamados ecossistemas de carbono azul, como florestas de algas e manguezais que aumentam o armazenamento de carbono e protegem como tempestades, além de servir como habitats para a vida selvagem.

A redução do consumo de carne vermelha, com substituição por frutas e vegetais, também poderia diminuir as emissões de gases causadores do estufa em até 70% até 2050 e salvar a vida de 11 milhões de pessoas até 2030.

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