MMA não envia representantes a evento sobre preservação da Amazônia
Conferência internacional organizada por órgão da ONU convidou membros do Ministério brasileiro; decisões de Salles vêm sendo criticadas por ambientalistas
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) foi convidado, mas não enviou representantes para um evento internacional organizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em Lima, Peru, sobre gestão florestal e agricultura, com foco na Amazônia. A Conferência do Bom Crescimento começou na segunda-feira 13.
A representação do Pnud no Brasil confirmou que o ministério recebeu convite para participar do evento, mas respondeu que o ministro Ricardo Salles não poderia participar em razão de outras agendas.
A conferência realizada em Lima discute formas para barrar o desmatamento da Amazônia por meio da agricultura sustentável e da observação de projetos de pequenos produtores locais.
Participaram de sua abertura o presidente do Peru, Martín Vizcarra, e os ministros de Meio Ambiente e de Agricultura do país anfitrião e do Equador. Também foram convidados representantes da ONU e de organizações da sociedade civil, como a WWF.
A organização da conferência confirmou que há brasileiros acompanhando as reuniões, mas não funcionários do MMA.
O secretário de Agricultura do Tocantins, Cesar Hanna Halim, e o secretário do Meio Ambiente do estado, Adriano Vigilato, assim como o superintendente para Políticas de Agricultura da Bahia, Marcilo Menezes, estão em Lima para a conferência. O presidente do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) também comparece ao evento.
A Floresta Amazônica possui cerca de 5 milhões de quilômetros quadrados, sendo 60% dessa área no Brasil. Os 40% restantes estão na Colômbia, Equador, Bolívia, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.
Segundo o Pnud, o Ministério da Agricultura do Brasil acompanha todas as ações da Conferência do Bom Crescimento e faz parte da governança do projeto. Mas não executa o programa diretamente.
Nesta semana, o governo brasileiro cancelou a Semana Climática América Latina e Caribe, organizada pela Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC). A reunião estava marcada para os dias 19 e 23 de agosto em Salvador.
O evento é um preparativo para a Conferência do Clima (COP-25), que será realizada em dezembro, em Santiago, após o Brasil também ter desistido de sediar esse encontro em seu território.
Ao explicar ao Blog de Andréia Sadi, do portal G1, a razão pela qual o governo desistiu do evento em Salvador, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse: “Vou manter um encontro que vai preparar um outro, que não vai acontecer mais no Brasil, por quê? Não faz o menor sentido, vai para o Chile! Vou fazer uma reunião para a turma ter oportunidade de fazer turismo em Salvador? Comer acarajé?”.
Reação
As decisões do ministério de cancelar a reunião em Salvador e não comparecer à conferência de Lima tiveram repercussão negativa entre ambientalistas e membros da organização dos eventos.
Em nota a VEJA, a organização não governamental WWF Brasil (World Wide Fund for Nature) criticou o posicionamento e afirmou ser “lamentável” o Brasil abrir mão das “oportunidades econômicas e vantagens competitivas ao assumir compromissos com uma economia de baixo carbono”.
“O Brasil teve um papel de liderança nas negociações climáticas – somos um dos países mais ricos em biodiversidade no planeta- e temos nos afastado dessas negociações. Essa atitude pode atrapalhar os negócios brasileiros no exterior, manchando nossa reputação internacional”, afirmou a WWF Brasil .
“As Semanas Climáticas são organizadas todo ano pela ONU para oferecer um espaço de engajamento para empresas, governos municipais e estaduais e academia, já que as negociações climáticas oficiais são restritas aos governos federais”, disse ainda a WWF Brasil.
O Ministério do Meio Ambiente não respondeu às perguntas enviadas por VEJA sobre o cancelamento da Semana Climática e a decisão de não enviar representantes à Conferência do Bom Crescimento.