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México cobra Brasil por controle de imigrantes ilegais viajando aos EUA

Após acordo com americanos, chanceler mexicano pediu 'solidariedade' de outros países da região para reduzir tráfico na fronteira

Por Redação
Atualizado em 30 jul 2020, 19h45 - Publicado em 12 jun 2019, 10h19
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  • O México sugeriu que o Brasil também pague a conta do cerco aos imigrantes ilegais exigido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

    Segundo o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, novas medidas serão necessárias se o acordo com os americanos, anunciado na semana passada, não reduzir o número de imigrantes que entram no México a caminho dos Estados Unidos no prazo de 45 dias.

    Ebrard afirmou que “ações adicionais para restringir a imigração ilegal” devem envolver também Brasil, Panamá e Guatemala. “Precisamos da solidariedade deles”, disse o chanceler mexicano.

    “Do Brasil, porque é onde as pessoas de fora do continente chegam. Do Panamá, porque é onde chegam cubanos e haitianos. Da Guatemala, porque é por onde passam hondurenhos e salvadorenhos”, afirmou.

    O Ministério de Relações Exteriores brasileiro disse que não foi contatado por nenhum governo sobre o assunto.

    O acordo

    O acordo entre México e Estados Unidos dá a Washington a discricionalidade, passados 45 dias, de determinar se as medidas adotadas pelo México foram exitosas para frear a migração. A informação estava presente em um documento exibido por Donald Trump a jornalistas nesta terça-feira 11.

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    A folha de papel foi fotografada quando o presidente dos Estados Unidos falou à imprensa no jardim da Casa Branca e foi questionado sobre o acordo. Antes de responder, ele mostrou o documento dobrado em três que, segundo ele, continha os compromissos entre os dois países.

    “Este é o acordo que todos dizem que eu não fiz. Vou deixar o México fazer o anúncio em tempo hábil”, disse Trump sobre o acordo conjunto, do qual apenas as linhas gerais são conhecidas.

    Após a exibição acidental do documento, Marcelo Ebrard confirmou que o acordo prevê que, caso o fluxo migratório não diminua em 45 dias, o México se comprometeu a considerar a hipótese de passar a aceitar os imigrantes como refugiados em seu território.

    Para cumprir os compromissos, as instalações imigratórias mexicanas no sul terão que ser reformadas, acrescentou Ebrard.

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    “É preciso haver uma presença diferente do Estado mexicano no sul”, afirmou ele aos repórteres, observando que a infraestrutura da divisa sul com a Guatemala foi negligenciada durante anos enquanto a fronteira norte era modernizada.

    “Você vai ao sul e a primeira coisa que se pergunta é ‘certo, onde está a fronteira?’ Não há nada. A ideia é fazer o sul como o norte, tanto quanto possível”.

    Ebrard disse que será necessário construir instalações provisórias antes de se implantar um plano mais amplo para lidar com o fluxo de imigrantes centro-americanos. “Porque a realidade é que é preciso fazer um esforço muito grande.”

    Respondendo a perguntas ao lado do presidente, Andrés Manuel López Obrador, o chanceler disse que o México está acelerando o envio da Guarda Nacional para a fronteira com a Guatemala e que todos os imigrantes entrando no México terão que se registrar com as autoridades.

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    O acordo entre os dois governos, anunciado na sexta-feira 7, evitou a imposição de tarifas gradativas sobre as importações de todos os bens mexicanos. Mesmo com todas as concessões, os Estados Unidos foram criticados no fim de semana por ter capitulado nas negociações.

    Por isso, desde segunda-feira 10, Trump garante que levará as tarifas adiante se o Congresso mexicano não aprovar uma parte ainda não revelada do acordo que os Estados Unidos pleiteiam há muito tempo.

    Ontem, o presidente americano garantiu que o acordo tinha trechos “secretos”. O governo mexicano nega que haja partes não divulgadas do acordo com Trump.

    Rotas de imigrantes

    Segundo o governo americano, no ano fiscal de 2019, que começou em outubro, foram apreendidas na fronteira do México com os Estados Unidos 27.000 pessoas de 37 países – exceto México.

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    De acordo com o jornal USA Today, apenas no posto fronteiriço de Del Rio, no Texas, o número de detenções de não mexicanos aumentou 500% em relação ao ano passado.

    Na semana passada, diz o jornal, um grupo de 37 congoleses foi preso ao tentar entrar nos Estados Unidos pela passagem de Del Rio. Apesar do aumento, o número de africanos ainda é irrisório diante do total de centro-americanos que fazem a travessia.

    Estatísticas do governo americano mostram que apenas 367 imigrantes africanos foram presos na fronteira em 2018, um aumento de 44,5% em relação a 2017. No mesmo período, mais de 380.000 centro-americanos – incluindo 155.000 mexicanos – foram apreendidos ao tentarem entrar nos Estados Unidos.

    O número relativamente baixo de africanos apreendidos se explica, segundo o USA Today, pelo fato de a maioria dos imigrantes da África preferir aguardar a conclusão do processo de asilo no México – o fato de não terem família ou conhecidos do lado americano faz com que eles não arrisquem a travessia.

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    O Brasil tem um papel duplo no fluxo regional de imigração, pois serve tanto como país intermediário como destino final de estrangeiros de países sul-americanos, africanos e asiáticos.

    As rotas que saem do Brasil em direção aos Estados Unidos são diversas e variam de acordo com o dinheiro disponível. Segundo o padre Paolo Parise, coordenador da entidade de acolhimento de imigrantes Missão Paz, uma das rotas mais baratas é por terra, pelo Acre.

    O presidente da ONG África do Coração, Jean Katumba Mulondayi, relata que cinco grupos, cada um com uma rota diferente, chegaram a sair ao mesmo tempo do Brasil. Ele acompanhou uma viagem ao Equador, seguindo para Costa Rica, México e Estados Unidos. “Eles saem sem saber o que vai acontecer. O destino fica nas mãos de Deus”, afirma.

    (Com Estadão Conteúdo e AFP)

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