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Mexicanos devem eleger López Obrador como presidente hoje

Candidato do partido Morena tem chance de vitória de 97% e promete combate à pobreza, violência e corrupção, mas não deixa claro como lidará com os EUA

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 1 jul 2018, 12h25 - Publicado em 1 jul 2018, 08h00

Depois de duas fracassadas campanhas pela Presidência, o ex-prefeito da Cidade do México Andrés Manuel López Obrador deverá ser eleito hoje com cerca de 50% dos votos válidos. Dono de um perfil de caudilho, comprometido a combater a corrupção e alinhado a uma política econômica mais ortodoxa do que populista, AMLO, como é mais conhecido no México, está pelo menos 14,6 pontos porcentuais à frente de seus principais concorrentes, segundo as mais recentes pesquisas.

Um modelo de cálculo da média de pesquisas adotado pelo jornal espanhol El País apontou ter AMLO 97% de probabilidade de vitória. Ricardo Anaya, de 39 anos, da coalizão do Partido Revolucionário Democrata (PRD), teria apenas 2% de chances, e advogado e economista José Antonio Meade, de 49 anos, candidato do tradicional Partido Revolucionário Institucional (PRI), 1%.

Não há dúvidas de que, desta vez, AMLO chega ao Palácio Nacional para cumprir um mandato de seis anos. Pesquisa do jornal mexicano El Financiero com 1.420 eleitores entre 15 e 23 de junho indicou ter López Obrador, candidato do (Movimento Regeneração Nacional),  54% das intenções de voto. Meade apareceu em segundo lugar, com 22%, e Anaya contabilizou 21%.  A pesquisa mostra que 64% dos eleitores – ou 57 milhões de pessoas – deverão votar hoje.

Em seu discurso de encerramento de campanha, no Estádio Azteca na última quarta-feira (27), López Obrador prometeu conduzir uma “transformação” no país, cujos índices de corrupção, de pobreza e de violência estão entre os maiores do mundo.

Dados do Conselho Nacional de Avaliação das Políticas de Desenvolvimento Social (Coneval), 46,3% dos mexicanos vivem na pobreza e 7,6%, na extrema pobreza. O país não se beneficiou da redução de níveis de pobreza na primeira década do século, ao contrário da maioria dos países da América Latina.

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O ano passado foi considerado o mais violento da história do país, com mais de 25 mil homicídios registados. A violência dos carteis de narcotráfico e do crime organizado alcançou a campanha eleitoral mexicana e ceifou as vidas de 132 políticos.

A corrupção foi a principal mancha no governo de Enrique Peña Nieto, do PRI, que não conseguiu dar impulso à campanha de Meade, seu candidato. Sua mulher, a atriz Angélica Rivera, não explicou de forma convincente às autoridades a compra de uma casa de 7 milhões de dólares de um empresário ligado à família. A corrupção na esfera federal tornou-se endêmica durante seu governo.

“Estamos a ponto de realizar uma transformação sem derramamento de sangue”, disse López Obrador para as cerca de 100 mil pessoas presentes no estádio. “O principal problema do México é a corrupção. Esta é a principal causa de desigualdade econômica, a corrupção desatou a insegurança.”

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López Obrador já foi visto – e ainda é por uma parcela de mexicanos – como um líder ao estilo do venezuelano Hugo Chávez. Gosta de valer-se da comunicação direta com o eleitor, visitou cada cidade e vilarejo do país mais de uma vez e está estreitamente vinculado aos movimentos sociais.

“Pobre México. Tão longe de Deus, tão perto dos Estados Unidos”, já dizia o general Porfírio Díaz, presidente mexicano em três ocasiões entre 1876 e 1911. A frase continuou a ser repetida por seus sucessores e deverá ser provada por AMLO.

Mas ainda não está claro sobre como López Obrador reagirá às políticas agressivas do governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, para as áreas de migração e de comércio. Investimentos de empresas americanas na região Norte do México estão sob a ameaça da Casa Branca, assim como o diálogo bilateral, tradicionalmente difícil, sobre os mexicanos e centro-americanos que buscam melhores condições de vida do outro lado do Rio Grande.

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A renegociação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), imposta pelo governo Trump ao México e ao Canadá, está suspensa desde abril passado. Ainda obscura, a posição de AMLO será definitiva para a continuidade das conversas.

Na política externa, de forma ampla, AMLO deverá reduzir o perfil do México em questões regionais – como a pressão sobre o regime da Venezuela – para se concentrar nas que tenham resultados práticos na vida dos mexicanos e na economia do país.

“López Obrador vai seguir uma política mais soberanista, centrada em questões domésticas, e manter-se neutro nas celeumas internacionais”, afirmou um diplomata brasileiro que acompanha o tema.

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Suas gestões como prefeito da Cidade do México e governador do Estado de Tabasco foram consideradas competentes. Em 2006, porém, foi derrotado por Felipe Calderón na corrida presidencial. Seis anos depois, Peña Nieto foi o eleito. Em ambos os pleitos, concorreu pelo Partido da Ação Nacional (PAN).

O candidato há muito tempo não tem conexões com o PRI, que dominou a política mexicana por entre 1929 e 2000. Mas o PAN foi o resultado de uma dissidência do PRI, e o atual partido de AMLO, o Morena, é uma dissidência do PAN. Seu sonho é tornar-se equivalente ao prócer Francisco Madero, o primeiro presidente do México, eleito logo ao final da Revolução de 1910.

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