O primeiro tour de beija-mão de Boris Johnson pela Europa desde sua ascensão ao posto de primeiro-ministro do Reino Unido não foi em vão. Em Berlim, o conservador britânico obteve nesta quarta-feira, 21, da chanceler alemã, Angela Merkel, um prazo de 30 dias para apresentar uma fórmula capaz de evitar o Brexit sem acordo. Seu teste de fogo, porém, será o encontro em Paris nesta quinta-feira, 22, com o presidente da França, Emmanuel Macron, menos disposto a dar uma chance a Johnson.
“Vamos ouvir as propostas do governo britânico. Nosso objetivo é garantir a integralidade do mercado único (europeu)”, afirmou Merkel, ao lado de Johnson, logo depois de mencionar o prazo de 30 dias para uma solução negociada, segundo a agência DW.
O primeiro-ministro britânico repetira inúmeras vezes que a saída do Reino Unido da União Europeia se dará com ou sem acordo em 31 de outubro, em uma clara aversão a uma nova postergação do prazo. Johnson foi um dos mais enfáticos defensores do Brexit durante a campanha para o referendo de 2016 e, como parlamentar, votou contrariamente ao acordo fechado com os europeus pela sua antecessora, Theresa May.
A Merkel e aos alemães, Johnson frisou que “o Reino Unido quer um acordo” e indicou que será preciso eliminar do pacto anterior o mecanismo para evitar uma fronteira dura entre a europeia Irlanda e a britânica Irlanda do Norte por tempo indefinido. Esse item, insistiu Johnson, manteria a atual relação estreita entre Londres e Bruxelas. “Se pudermos fazer isso, tenho absoluta certeza que podemos avançar juntos”, afirmou.
O tópico-problema mencionado por Johnson é o mesmo que a Irlanda considera essencial para manter a paz na ilha, conquista com muito esforço. Nova onda de tensão entre os dois lados pode recomeçar assim que o fim do livre comércio e da circulação de pessoas for reimposto na ilha irlandesa.
Johnson foi recebido em Berlim com protestos contra o Brexit e não deve encontrar acolhida diferente em Paris. Diplomatas franceses anteciparam que a remoção do mecanismo para evitar a fronteira dura na Irlanda significará a impossibilidade de um acordo com Londres. O próprio Macron avisou que a renegociação do acordo entre a União Europeia e o Reino Unido sobre o Brexit “não é uma opção”, segundo o jornal The Guardian.
Para o líder francês, seria uma irresponsabilidade arriscar a paz na Irlanda. “Nós todos devemos nos lembrar da história recente: houve uma guerra nessa parte da Europa até recentemente, e aqueles que jogam com isso se esqueceram da história muito rapidamente”, afirmou Macron.
Johnson se encontrará inevitavelmente com o presidente do Conselho da União Europeia, Donald Tusk, em Biarritz, na França, durante a reunião de cúpula do G7, as sete maiores economias do mundo, entre 24 e 26 de agosto.