Mercosul analisa medidas contra Maduro por eleições contestadas, diz Uruguai
Anúncio foi feito pelo ministro das Relações do Uruguai, Omar Paganini, à Rádio Sarandí; governo uruguaio ocupa presidência rotatória do bloco comercial
O Mercosul analisa tomar medidas contra a Venezuela em meio à contestação dos resultados das eleições do país, que proclamaram a vitória do presidente Nicolás Maduro. A movimentação foi anunciada pelo ministro das Relações do Uruguai, Omar Paganini, à Rádio Sarandí. O governo uruguaio ocupa a presidência rotatória do bloco comercial, que também é composto por Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai.
Questionado sobre o pleito, Paganini disse que o Mercosul irá “estudar” quais consequências podem ser aplicadas ao regime chavista, mas que “provavelmente sim” o grupo tomaria alguma atitude sobre a situação na Venezuela. Embora não tenha detalhado sobre quais medidas seriam infligidas, o ministro disse que está “conversando com outros países” sobre quais serão os próximos passos.
A declaração ocorre poucos dias após o governo de Maduro retirar “toda a equipe diplomática das missões na Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai” e expulsar diplomatas dos países em questão da Venezuela. Em resposta à decisão de Caracas, Paganini disse que o episódio mostra que o líder venezuelano dá “pouca importância” à comunidade internacional.
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Críticas a países aliados de Maduro
Além disso, o chanceler criticou governos que “se apressaram” para reconhecer a reeleição de Maduro, uma espécie de “carta branca” a um “regime que fez tudo mal”. Ele também afirmou que o apoio “foi um alinhamento ideológico ignorando os princípios da democracia”. Entre os países que aceitaram o resultado estão Rússia, China, Coreia do Norte, Cuba, Nicarágua, Irã, Honduras e Bolívia.
“Neste momento, o que importa para que a Venezuela siga um caminho democrático é que o regime aceite fazer uma contagem fiel dos resultados das eleições. Que não faça o que fez, que com um percentual da apuração emitiu um relatório e proclamou um presidente sem fechar nenhuma apuração nem ato formal”, frisou Paganini.
“A posição internacional tem que ser essa: não reconhecer este governo até que se demonstre que a eleição foi bem contabilizada. Estamos seguros de que os dados iniciais estão completamente errados. Para começar, a soma dá mais de 100%. Nem sequer se deram ao trabalho de fazer números que fossem consistentes”, acrescentou.
No Brasil, o Partido dos Trabalhadores (PT) declarou o triunfo de Maduro em nota, na qual reforçou que é “importante que o presidente Nicolás Maduro, agora reeleito, continue o diálogo com a oposição, no sentido de superar os graves problemas da Venezuela, em grande medida causados por sanções ilegais”. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por sua vez, cobrou que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), responsável por atestar novo mandatário, divulgue as atas eleitorais para comprovar vitória.
“Como resolve essa briga? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça o processo. E vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar. Eu estou convencido que é um processo normal, tranquilo”, afirmou Lula.
“Na hora que tiver apresentado as atas, e for consagrado que a ata é verdadeira, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral da Venezuela”, concluiu o petista.
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Por que a eleição foi contestada?
Na madrugada desta segunda, o CNE, órgão federal controlado pela ditadura, apontou vitória de Maduro com 51% dos votos, contra 44% do candidato oposicionista, Edmundo González Urrutia, que substituiu María Corina Machado, vencedora das primárias da oposição, após ser inabilitada pelo regime chavista. Em contraste, levantamentos de boca de urna sugeriram que o rival de Maduro teria vencido o pleito com 65% de apoio, contra apenas 31% do líder bolivariano.
A oposição, por sua vez, alega que González teria recebido 73% dos votos, enquanto Maduro teria arrematado menos de 30%. O principal ponto de questionamento da oposição e da comunidade internacional é que o regime não divulgou os resultados na totalidade, sem a publicação das atas das zonas eleitorais – relatórios que reúnem informações de cada centro eleitoral.