Manifestantes vão às ruas contra o presidente interino da Argélia
Abdelkader Bensalah desagradou os argelinos reformistas, que o consideram seguidor do regime ditatorial de Bouteflika
Milhares de manifestantes foram às ruas de Argel, na Argélia, nesta terça-feira, 9, contra a nomeação do presidente interino, Abdelkader Bensalah, pelo Parlamento. os protestos se dão uma semana depois da renúncia do ditador Abdelaziz Bouteflika, um dos raros líderes a passar incólume pela Primavera Árabe, em 2011.
Bensalah preside o Conselho da Nação, a Câmara Alta do Parlamento argelino, e deverá ficar por 90 dias no cargo, no máximo, segundo a Constituição do país. Neste período, deve convocar e organizar as eleições presidenciais, nas quais não poderá se candidatar.
“Eu vou trabalhar para concretizar os interesses do povo”, declarou Bensalah aos demais parlamentares. “Esta é uma grande responsabilidade que me é atribuída pela lei.”
Os partidos de oposição, em apoio às reivindicações populares, boicotaram a reunião no Parlamento na qual o nome de Bensalah foi escolhido. O presidente interino ignorou seus críticos e, em discurso, agradeceu e exaltou a atuação das Forças Armadas, corroborando para sua imagem alinhada à do antigo líder. “Agradeço ao Exército e a todas as forças de segurança por seu trabalho”, disse.
No último dia 11 de março, depois de semanas de protestos, o ditador anunciou que não se candidataria a um quinto mandato. Ele também decretou o adiamento das eleições presidenciais previstas para 18 de abril – e ainda sem data definida – e a abertura de um período de transição para escolher seu substituto nas urnas.
Ainda no final de março, o líder concordou em renunciar até o dia 28 de abril. Mas o chefe das Forças Armadas interveio, afirmando que “não havia mais tempo a perder”, já que os problemas de saúde do presidente o tornavam inapto a governar.
O vice-ministro da Defesa, Ahmed Gaid Salah, administrou cuidadosamente a saída de Bouteflika e expressou apoio aos manifestantes, que querem se livrar de todos os resquícios de um sistema que privilegiou figuras do partido governista, do Exército, grandes empresários e líderes sindicais que ajudaram o ditador a permanecer no poder. Na segunda-feira, 8, o primeiro-ministro argelino, Ahmed Ouyahia, também anunciou sua renúncia.
(Com Reuters)