Manifestantes usaram uma caminhonete da companhia elétrica estatal do México para derrubar uma das portas do palácio presidencial nesta quarta-feira, 6. O grupo protestava contra o desaparecimento de 43 estudantes, que sumiram há quase dez anos, ainda sem solução. A depredação ocorreu no momento em que o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, o AMLO, realizava sua tradicional coletiva de imprensa matutina dentro do edifício.
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Autoridades ergueram barreiras ao redor do prédio para impedir uma invasão, enquanto a política usou gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Parte dos envolvidos no ato foram presos, segundo a imprensa local, mas não há detalhes sobre a identidade dos envolvidos ou sobre o número de pessoas detidas. Apesar da confusão, centenas continuam acampados do lado de fora do Palácio Nacional na Cidade do México, capital do país.
“Querem provocar”
Após o tumulto, AMLO disse que “a porta seria consertada” e que “não havia problema”, acrescentando não ter planos para reprimir os protestos. Ele também informou que o governo continua as investigações sobre o caso dos estudantes desaparecidos, mas acusou os manifestantes de terem sido manipulados por ONGs e grupos de defesa dos direitos humanos, cujo objetivo seria desestabilizar o governo.
“Querem é provocar”, disse o líder mexicano sobre as ONGs, sem apresentar provas da acusação.
O presidente criticou ainda os advogados dos desaparecidos, por supostamente proibirem o governo de conversar com as famílias das vítimas – também para isso não apresentou provas. Em resposta, o Centro de Direitos Humanos Miguel Agustin Pro Juarez (Prodh), que representa as famílias, condenou o incidente desta quarta-feira, negou as acusações e pediu o “restabelecimento de um diálogo respeitoso”.
Entenda o caso
Os 43 estudantes da Escola Normal Rural de Ayotzinapa teriam sido atacados entre noite de 26 e a madrugada de 27 de setembro de 2014, no estado de Guerrero. Eles viajavam rumo à Cidade do México para participar de um ato político em memória do massacre de 1968, quando centenas de manifestantes foram mortos durante um protesto contra o governo. No caminho, o grupo teria sido sequestrado por policiais corruptos e entregue a narcotraficantes do cartel Guerreros Unidos. Os criminosos, por sua vez, teriam matado os estudantes e queimado seus corpos, ao confundi-los com rivais. Foi o que indicou o parecer do então procurador responsável pelo caso, Jesús Murillo Karam.
Em 2016, investigadores independentes, no entanto, rejeitaram a versão e afirmaram que parte das confissões dos policiais envolvidos no suposto sequestros foi fruto de tortura. Eles também indicaram que o Exército e o Centro de Investigação e Segurança Nacional (Cisen) estavam envolvidos nos desaparecimentos.
Sob pressão, uma comissão da verdade, instaurada por AMLO, se afastou do veredito de Karam e definiu o violento episódio como “crime de Estado”, envolvendo uma série de militares, autoridades federais e regionais, bem como membros de cartéis. Em 2022, o general aposentado do Exército, José Rodríguez Pérez, foi preso por envolvimento no crime. Ao todo, 20 militares foram detidos. De lá para cá, os restos mortais de apenas três estudantes foram identificados, mas investigações permanecem em andamento.