Todo ano é igual: no feriadão de 4 de julho, o Dia da Independência dos Estados Unidos, tem churrasco, fogos de artifício ao anoitecer e paradas ao longo do dia, tudo visto e aplaudido por jovens, idosos e crianças agitando bandeirinhas. Não foi difícil, portanto, para Robert Crimo III, 21 anos, planejar seu massacre particular. Vestido de mulher para facilitar a fuga, ele se postou no topo de um prédio de Highland Park, subúrbio afluente de Chicago, apontou para baixo o rifle recém-comprado e atirou a esmo. Matou sete pessoas e feriu mais de trinta antes de abandonar a arma e fugir, deixando para trás o cenário desolador de sangue, destruição, objetos abandonados e carrinhos de bebê virados na correria. O governador de Illinois, J.B. Pritzker, lamentou a repetição “desta praga exclusivamente americana”, que ganhou nuance perturbadora: seis dos nove tiroteios mais mortíferos no país desde 2018 foram cometidos por pessoas com 21 anos ou menos. Assim como o atirador de Highland Park, o jovem acusado do ataque em Buffalo, no estado de Nova York, que deixou dez mortos, e o autor da horripilante matança de dezenove crianças em uma escola de Uvalde, no Texas, compraram suas armas sem obstáculos logo após completar 18 anos. Identificado e preso, Crimo confessou a barbárie. “Este país precisa conversar sobre as ocorrências semanais que envolvem a morte de dezenas de pessoas por armas compradas legalmente”, disse a prefeita de Highland Park, Nancy Rotering. Até quando os Estados Unidos fecharão os ouvidos à voz da razão?
Publicado em VEJA de 13 de julho de 2022, edição nº 2797