Macron promete ‘desescalada’ em crise e sugere concessões à Rússia
Presidente francês se encontrou nesta segunda-feira com Vladimir Putin, em meio ao aumento de tensões entre Moscou e União Europeia, antes de seguir a Kiev
O presidente francês, Emmanuel Macron, está confiante de que pode convencer a Rússia a recuar em relação à crise envolvendo a Ucrânia, em encontro com Vladimir Putin nesta segunda-feira, 7, em Moscou. No entanto, ele deu a entender que os países ocidentais podem ter que fazer concessões ao Kremlin.
A visão otimista de Macron pode ligar o sinal de alerta em uma série de países europeus que defendem uma ação mais dura contra o governo russo, principalmente aqueles que estão mais próximos da fronteira russa e temem futuras invasões.
Em entrevista ao jornal francês Journal du Dimanche antes da viagem, o chefe de Estado francês não apenas minimizou os temores de uma possível invasão como também defendeu a Rússia, afirmando que entende as necessidades de Moscou em exigir garantias em relação à sua segurança.
“A intensidade do diálogo que tivemos com o Kremlin e esta visita provavelmente impedirão a realização de uma operação militar. Então discutiremos os termos de desescalada”, disse Macron ao jornal, completando que sempre teve um diálogo profundo com Putin e que é responsabilidade de ambos encontrar soluções históricas.
Para a Rússia, no entanto, é baixa a probabilidade de haver grandes avanços na reunião desta segunda-feira.
“A situação é demasiadamente complexa para esperar grandes avanços ao longo de uma reunião”, disse Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, em entrevista coletiva diária.
Segundo Peskov, ao longo do diálogo “dominarão o assunto da tensão na Europa, ligada à situação em torno da Ucrânia e o assunto das garantias de segurança para a Federação Russa”. Macron, destacou o porta-voz, é “o chefe de Estado que preside a União Europeia, e isso é muito importante”.
O encontro acontece um dia depois de Macron conversar com o presidente americano, Joe Biden, sobre a crise na Ucrânia. Durante telefonema de 40 minutos, os dois líderes reafirmaram o “respaldo pela soberania e a integridade ucraniana” e afirmaram que seguirão em contato e continuarão “as consultas com aliados e parceiros”, o que inclui a própria Ucrânia.
Depois de Moscou, Macron viajará a Kiev, onde se encontrará com o presidente ucraniano, Volodymir Zelensky. Na sequência, ele viaja a Berlim junto ao presidente polonês, Andrzej Duda, para uma cúpula sobre a crise, sediada pelo chanceler alemão, Olaf Scholz.
O governo russo é contra a possível adesão de Kiev à aliança militar da Otan e vem alertando que uma adesão terá consequências graves. A Aliança, por sua vez, afirma que “a relação com a Ucrânia será decidida pelos 30 aliados da Otan e pela Ucrânia, mais ninguém” e acusa a Rússia de enviar tanques, artilharia e soldados à fronteira com a Ucrânia para preparar um ataque.
Putin afirmou ainda que uma eventual adesão do país vizinho à Aliança é uma ameaça não apenas à Rússia, mas também a todos os países do mundo. Segundo ele, uma Ucrânia fortalecida pela aliança com o ocidente pode ocasionar uma guerra para recuperar a Crimeia – território anexado pelo governo russo em 2014 –, levando a um conflito armado entre a Rússia e a Otan.
Para Macron, o objetivo final dos russos não é conquistar o país vizinho, mas sim não ser ameaçado pelos países do Ocidente.
“O objetivo geopolítico do Kremlin hoje claramente não é a Ucrânia, mas esclarecer as regras de coabitação com a União Europeia e a Otan”, disse o presidente. “A segurança e a soberania da Ucrânia ou de qualquer outro estado europeu não podem ser objeto de barganha, embora também seja legítimo que a Rússia coloque em questão a sua própria segurança”, completou.
Macron disse ainda que, para a realização de um acordo, é necessário abrir mão de algo. Além disso, é preciso haver um novo equilíbrio capaz de preservar a soberania e a paz dos países europeus, inclusive dos russos.
“A Rússia precisa ser respeitada e precisamos compreender todos os traumas contemporâneos desse grande povo e essa grande nação”, disse.
A viagem de Macron ocorre em meio à escalada da tensão envolvendo Rússia e União Europeia. Na última quinta-feira, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, chamou a movimentação militar russa de “a maior desde a Guerra Fria”. No dia seguinte, cerca de 3.000 soldados americanos desembarcaram na Alemanha para reforçar a segurança de países membros da Otan no leste da Europa.
Desde que foi eleito, em 2017, Macron mantém um diálogo com Putin, mesmo após sua campanha presidencial ter sido alvo de hackers apoiados pelo Kremlin. A estratégia, definida por muitas vezes como “ingênua” – inclusive pelo assessor do presidente russo –, ainda não produziu um avanço estratégico.
Nos últimos dias, os dois presidentes conversaram várias vezes por telefone e o chefe de Estado russo reclamou que os países ocidentais se recusam a ouvir as demandas feitas pela Rússia.