Macron pede calma, enquanto protestos continuam nas ruas e escolas
Governo abandonou aumento do imposto sobre combustível de forma definitiva, mas movimento se torna mais heterogêneo e descentralizado
O presidente da França, Emmanuel Macron, pediu às forças políticas e sindicais para lançarem um “apelo à calma” com o objetivo de desmobilizar os protestos contra o governo que varrem o país. Nesta quinta-feira, 6, ao menos 150 escolas se mobilizaram para se unirem aos manifestantes.
Estudantes secundaristas de todo o país convocaram, por meio das redes sociais, bloqueios nos colégios do país em protesto contra as reformas propostas pelo governo de Macron para o Ensino Médio.
Segundo o Ministério de Educação francês, por volta das 10h da manhã desta quinta (7h em Brasília), 150 centros educacionais em todo o país registravam algum tipo de manifestação. Em Paris, ao menos 10 escolas participam do movimento, enquanto em Versalhes de 32 colégios participantes, 10 estão totalmente bloqueados.
Em algumas partes da França, comícios de outros apoiadores dos coletes amarelos também foram convocados para hoje. Na noite desta quarta-feira, o Palácio do Eliseu revelou que teme “uma grande violência” nas manifestações previstas para o próximo sábado, 8.
“O momento que vivemos já não é o da oposição política”, disse na quarta-feira 5 o porta-voz do governo, Benjamin Griveaux, citando Macron. “O presidente pediu às forças políticas, sindicais e patronais que lancem um chamado claro e explícito à calma”, acrescentou.
“A segurança dos franceses e nossas instituições estão em jogo”, afirmou o primeiro-ministro, Edouard Philippe, em discurso ante a Assembleia Nacional.
Os protestos
Há três semanas, a França vive protestos convocados pelo movimento popular “coletes amarelos”, que começou com um protesto contra a alta do imposto sobre combustíveis e, agora, reflete uma insatisfação social mais ampla.
Os protestos começam a se estender para outras categorias. Esta quinta já é o terceiro dia consecutivo em que os estudantes do Ensino Médio convocam bloqueios nas escolas pelo país.
Os alunos querem o fim de uma reforma no currículo do Ensino Médio proposta pelo Macron e mudanças no sistema de ingresso nas universidades do país. A associação de estudantes secundaristas FIDL pediu um ato “amplo e geral” para e exige a renúncia do ministro da Educação.
Algumas universidades em Paris também seguiram o exemplo dos secundaristas. Na terça e quarta-feira, os centros de pesquisa de Censier e Tolbiac, da Universidade de Paris- Sorbonne, foram bloqueados. Hoje, o campus central da universidade também foi fechado pelos estudantes.
Durante os protestos nas escolas, diversos incidentes foram registrados. Na região de Aubervilliers, norte de Paris, um carro foi queimado e uma loja de telefones saqueada. Já em Bordeaux, no sudeste do país, seis alunos foram presos depois de entrarem em confronto com a polícia.
Suspensão dos impostos
Diante da pressão imposta pelos manifestantes nos últimos dias, o governo francês decidiu abandonar o aumento do imposto sobre combustível que previamente tinha sido suspenso por seis meses. Esta era a principal reivindicação dos coletes amarelos.
O premiê não deixou claro se o reajuste poderia ser adicionado eventualmente em uma emenda ao orçamento durante o ano que vem. A concessão custará 2 bilhões de euros (cerca 8,7 bilhões de reais) aos cofres públicos.
O presidente também congelou as discussões que teria sobre reajustes dos preços de alimentos, mas nada parece aplacar o ímpeto da mobilização. Sindicatos de produtores rurais e caminhoneiros anunciaram adesão a ela.
O movimento que começou como resposta a um plano do governo de elevar taxas de combustível para desestimular o uso de carros e fazer uma transição para energia limpa, está cada vez mais heterogêneo e inclui todo tipo de reivindicação.
Os sindicatos na França não vinham, até então, desempenhando um papel importante do movimento espontâneo, mas agora tentam capitalizar o crescente descontentamento popular.
Em um comunicado conjunto, dois sindicatos de caminhoneiros instaram esses profissionais a iniciar na noite de domingo, 9, um protesto contra um corte nos pagamentos das horas extras e pediram uma reunião urgente com o ministro dos Transportes.
Já o sindicato dos agricultores FNSEA disse que lutará para ajudar os produtores rurais a melhorar seus rendimentos, ainda que não oficialmente participe do movimento coletes amarelos.
A polícia francesa liberou a maioria dos depósitos de combustível que os manifestantes haviam bloqueado, mas em grande parte da França ainda faltava o produto nas bombas.
Manifestantes também tomaram cabines de pedágio nas estradas do país, permitindo que motoristas passassem sem pagar, para pressionar por demandas que vão do aumento de salários e pensões à dissolução da Assembleia Nacional, o Parlamento francês.
(Com AFP, EFE e Estadão Conteúdo)