Macron nomeia François Bayrou como primeiro-ministro da França
O ex-titular do cargo, Michel Barnier, foi forçado a apresentar sua renúncia após ser alvo de uma moção de desconfiança no Parlamento
O presidente da França, Emmanuel Macron, nomeou François Bayrou como primeiro-ministro do país nesta sexta-feira, 13, enquanto busca acalmar uma crise política que deixou tanto sua popularidade como sua influência política em baixa.
O gabinete de Macron fez o anúncio uma semana após o ex-titular do cargo, Michel Barnier, sofrer uma moção de desconfiança no Parlamento, onde a esquerda e a extrema direita se juntaram para derrubá-lo, forçando-o a apresentar sua renúncia. Imerso em turbulência política durante o segundo mandato, o presidente vê em Bayrou seu quarto primeiro-ministro neste ano.
Apesar disso, Macron prometeu permanecer no cargo até o fim do seu mandato, em 2027.
Quem é o novo premiê
Aliado próximo do presidente, Bayrou, 73 anos, é prefeito da cidade de Pau, no sudoeste do país, e lidera o partido de centro Movimento Democrático (MoDem). Ele fez de suas raízes rurais o centro de sua identidade política e, em 2017, decidiu não concorrer à eleição presidencial (seria a quarta vez), apoiando Macron e unindo-se à sua coalizão desde então.
Macron nomeou Bayrou como ministro da Justiça, mas ele renunciou apenas algumas semanas depois em meio a uma investigação sobre o suposto emprego fraudulento de assistentes parlamentares por seu partido. Ele foi inocentado das acusações de fraude neste ano.
Antes do anúncio, os dois passaram quase duas horas em negociações, que foram descritas como “tensas” pela mídia francesa.
Bayrou é considerado popular, até mesmo com alguns parlamentares de extrema direita do Reagrupamento Nacional (RN), mas ainda não tem apoio unânime de membros de outros partidos.
“Daremos a ele uma chance, como fizemos com Michel Barnier”, disse Philippe Ballard, deputado do RN.
Ele precisará formar um governo que não seja derrubado, como seu antecessor foi, na Assembleia Nacional. O novo primeiro-ministro também recebe o desafio de Barnier de aprovar o orçamento do governo para 2025 em um Parlamento extremamente dividido, onde Macron enfrenta oposição declarada tanto da Nova Frente Popular (NFP), bloco que reúne partidos de centro-esquerda e extrema esquerda, quanto dos ultraconservadores direitistas do RN, liderado pela maior rival do presidente, Marine Le Pen.
Falta de apoio suficiente para aprovar o orçamento no Parlamento, mesmo dando certas concessões ao RN, foi o motivo da moção de desconfiança contra Barnier, que buscava um aumento de 60 bilhões de euros (380 bilhões de reais) em impostos e cortes de gastos. Seu objetivo era reduzir o déficit orçamentário da França, que deve atingir 6,1% do PIB neste ano.
O partido de extrema esquerda França Insubmissa, atualmente envolvido numa rusga com sua aliança da NFP, já declarou que proporá um novo voto de desconfiança contra Bayrou.
Crise política
A política francesa está presa num impasse desde que Macron convocou eleições parlamentares antecipadas para julho. Os vencedores foram a NFP, seguida pelos centristas do presidente e pela extrema direita de Le Pen. Mas ninguém conseguiu maioria clara, e a Assembleia Nacional está dividida em três blocos distintos. O caos já incomoda a população: uma pesquisa de opinião para a televisão francesa BFMTV revelou que 61% dos eleitores franceses estão preocupados com a situação política.
A líder regional socialista Carole Dega criticou as últimas cenas do processo político como um “filme ruim”, enquanto o deputado de extrema esquerda do França Insubmissa Manuel Bompard reclamou de um “espetáculo patético”.
Macron realizou mesas-redondas com líderes de todos os principais partidos políticos, exceto o França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon e o Reagrupamento Nacional de Le Pen. Mas ainda não está claro se os partidos de centro-esquerda podem ser persuadidos a apoiar o governo de Bayrou.
O Partido Socialista, o Partido Verde e o Partido Comunista romperam com os esquerdistas radicais para participar das negociações com o governo (quando Mélenchon demandou que seus aliados não entrassem numa possível coalizão, Olivier Faure, dos socialistas, disse que “quanto mais ele grita, menos ele é ouvido”). No entanto, eles deixaram claro que queriam ver um primeiro-ministro de esquerda para se juntarem a um governo de base ampla.
“Eu disse que queria alguém da esquerda e dos verdes, e Bayrou não é nem um nem outro”, disse a líder do Partido Verde, Marine Tondelier, à TV francesa na quinta-feira. Ela acrescentou que não via como o campo centrista, que perdeu as eleições parlamentares, poderia manter o cargo de primeiro-ministro.