O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) questionou a legitimidade da oposição na Venezuela nesta quarta-feira, 6, fazendo uma comparação com seu rival político Jair Bolsonaro (PL). O petista disse que “nada vale” se o adversário do atual presidente, Nicolás Maduro, tiver o mesmo comportamento que a oposição ao seu governo no Brasil.
O mandatário brasileiro deu a declaração a jornalistas em Brasília, pouco antes de receber o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchéz, no Palácio do Planalto. Ele havia sido perguntado se confiava em que as eleições na Venezuela seriam justas e livres e se a corrida eleitoral teria outros candidatos que não Maduro.
“O que eles (Venezuela) me disseram, da reunião que tive na Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), é que vão convidar olheiros do mundo inteiro. Mas se o candidato da oposição tiver o mesmo comportamento que o nosso aqui, nada vale”, disse Lula.
Muy amigos
Desde que venceu as eleições em 2022, Lula fez uma série de acenos a Maduro. Recebeu-o em Brasília para a primeira visita do ditador venezuelano ao país desde 2015, às margens da cúpula da Celac. Depois de uma série de abraços e tapinhas nas costas, Lula descreveu seu convidado, que em 2020 foi acusado pelo governo dos Estados Unidos de “narcoterrorismo”, como vítima de “uma narrativa construída de autoritarismo”.
Declarou ainda “absurdo” rotular Maduro de líder ilegítimo, visto que foi “eleito pelo povo”; um argumento que evita o contexto das eleições de 2018, que 60 governos em todo o mundo declararam terem sido marcadas por fraude.
Inabilitação da oposição
A Comissão Nacional Eleitoral da Venezuela confirmou na terça-feira, 5, o dia em que o país terá eleições presidenciais, 28 de julho, data de nascimento de Hugo Chávez, líder do país até sua morte, em 2013, e mentor político de Maduro. O dia escolhido para o anúncio, 5 de março, por sua vez, é a data em que o ex-presidente faleceu.
Isso dá pouco espaço de manobra a María Corina Machado, a engenheira civil que venceu as primárias da oposição no ano passado, para escolher uma candidatura unificada contra Maduro, com acachapantes 99% dos votos. Uma pesquisa realizada em novembro revelou que ela ganharia 70% dos votos numa disputa com o atual líder do país, que ficaria com apenas 9%.
Por isso, não foi nenhuma surpresa quando, em 27 de janeiro, o Supremo venezuelano, cheio de comparsas de Maduro, ratificou uma proibição contra a política, barrada de concorrer a cargos públicos por 15 anos.
Isso deve impedi-la de disputar a Presidência neste ano – a não ser que uma grande reviravolta ocorra.
Neste ano, Maduro intensificou ainda mais a repressão contra opositores na Venezuela. Além da inabilitação de Machado, o governo expulsou a agência das Nações Unidas de direitos humanos do país e também mandou tirar do ar o sinal da emissora alemã Deutsche Welle, que havia recentemente veiculado denúncias contra o alto escalão do regime.