O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um chamado ao diálogo ao abrir a segunda sessão de discussão da cúpula de líderes do G20 nesta segunda-feira, 18. Num mundo que mais parece uma Babel moderna, como descreveu a reportagem de capa de VEJA, o petista afirmou que a “diplomacia deu lugar à intransigência” e defendeu uma reforma das Nações Unidas para fortalecer o multilateralismo.
“(Na crise financeira de 2008) escolhemos salvar bancos ao invés de salvar pessoas, socorremos o setor privado em vez de fortalecer o estado, priorizar economias centrais em vez de apoiar países em desenvolvimento. O mundo voltou a crescer, mas esse crescimento não chegou a países em desenvolvimento”, afirmou.
Lula usou o discurso para defender que o projeto de globalização neoliberal “fracassou”, e que hoje a comunidade internacional se resignou a participar de disputas hegemônicas, sem produzir mudanças concretas no mundo.
“A resposta para a crise do multilateralismo é mais multilateralismo. Não é preciso esperar uma Terceira Guerra Mundial, nem um colapso econômico, para produzir as mudanças de que o mundo precisa”, sublinhou.
Proposta de revisão
Para o mandatário brasileiro, não haveria ninguém em melhor posição do que o G20, grupo que representa mais de 80% do PIB global, para “redesenhar o futuro da humanidade”. Com isso, ele quer dizer a reforma dos sistemas de governança internacional, entre eles as Nações Unidas e seus diferentes braços.
Neste ano, o G20 aprovou pela primeira vez, na sede da ONU em Nova York, um chamado de ação para a reforma dos organismos internacionais. Lula mencionou a inação do Conselho de Segurança perante conflitos que assolam o mundo hoje para exemplificar como esses sistemas internacionais se deterioraram. “O uso irrestrito do veto por membros permanentes virou um instrumento de impacto negativo”, avaliou.
O petista acrescentou que o Brasil considera apresentar uma proposta de convocação de uma conferência de revisão da Carta das Nações Unidas, com base no seu artigo 109. O artigo trata justamente do rito para que os membros da ONU se reúnam para “revisar” o documento. Segundo esse trecho, o órgão internacional poderá convocar uma Conferência Geral dos Membros para discutir o texto.
Lula também falou em rever regras financeiras, afirmando que o déficit de países em desenvolvimento é maior do que o montante direcionado para áreas como saúde e educação, e apoiando que a colaboração tributária internacional é essencial para crescimento igual. Nesse âmbito, defendeu a taxação dos chamados “super ricos”, um dos pontos que o Brasil deseja ver na declaração final da cúpula. Segundo ele, com base em cálculos de grupos de estudos do G20, a taxação dos 3% mais ricos do mundo recolheria mais de US$ 200 bilhões por ano, que poderiam ser investidos em iniciativas de desenvolvimento global ou combate às mudanças climáticas.
Ao citar impasses recentes em cúpulas internacionais, como a última COP para a biodiversidade na Colômbia, o petista disse que “a diplomacia perde terreno para a intransigência” e que “não deve haver debates interditados nem linhas vermelhas intransponíveis” na hora de discutir geopolítica e colaboração internacional.
“A pluralidade de vozes funciona como fator de equilíbrio. O futuro é multilateral. Não podemos deixar que o medo de dialogar triunfe”, concluiu.