Às margens do G20, Brasil e Argentina firmaram um acordo nesta segunda-feira, 18, para aumentar a importação de gás natural vindo da região argentina de Vaca Muerta. A assinatura do memorando de entendimento pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o ministro da Economia vizinho, Luis Caputo, ocorreu enquanto as delegações dos dois países batem cabeça na cúpula do G20, onde o governo de Javier Milei virou pedra no sapato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por ameaçar sabotar as pautas prioritárias do Brasil.
A declaração final da cúpula precisa ser assinada por todos os membros do G20 para valer. Ou seja, é necessário consenso, e apenas uma pessoa (como Milei) pode afundar o texto.
A Casa Rosada já apresentou objeções a trechos propostos pelo Brasil, como o que condena todas as formas de discriminação contra mulheres e meninas e defende a “igualdade de gênero”. Outro tema visto com maus olhos pelo governo Milei é o endosso da Agenda 2030 da ONU. Em outubro, depois de demitir a chanceler Diana Mondino – por apoiar uma resolução da ONU contra o embargo a Cuba pelos EUA –, o líder argentino enviou uma instrução afirmando que diplomatas que apoiassem qualquer declaração, resolução ou projeto relacionado às Nações Unidas teria o mesmo destino.
Afeito ao bilionário Elon Musk, agora parte do governo de outra figura que Milei admira, Donald Trump, o argentino também não quer assinar em baixo do pedido pela taxa universal aos chamados super ricos. Lula afirmou em discurso na cúpula nesta segunda-feira que um imposto global aos 3% mais ricos do mundo já geraria mais de US$ 200 bilhões ao ano para investir em iniciativas que reduzam a pobreza, a desigualdade e ajudem no combate às mudanças climáticas.
Gás de Vaca Muerta
Ainda não está claro, mas pode ser que o acordo de importação de gás argentino tenha azeitado as negociações durante o G20. Nesta manhã, a Argentina já voltou atrás e decidiu entrar na Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, um plano criado por Lula em sua presidência rotativa do G20 que conquistou a adesão de 82 países.
O ato firmado por Silveira e Caputo cria um grupo de trabalho bilateral e prevê a possibilidade de importação para o Brasil de 2 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia no curto prazo, aumentando nos próximos 3 anos para 10 milhões, até atingir 30 milhões em 2030.
O grupo de trabalho vai estudar a viabilidade econômica das atuais rotas logísticas, e interconectar os gasodutos existentes, para exportar o gás argentino no menor tempo e com o menor custo possível. No entanto, está aberto a considerar uma possível expansão da infraestrutura dos dois países.
“Ao concretizar a importação do gás de Vaca Muerta, estamos fortalecendo o desenvolvimento das indústrias de fertilizantes, vidro, cerâmica, petroquímicos e tantas outras que trazem desenvolvimento econômico ao Brasil. Teremos mais gás, e junto com ele mais emprego, renda e riqueza para brasileiras e brasileiros”, afirmou Silveira.