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Lula dá destaque a governança multilateral em busca de protagonismo

Discurso do presidente na Assembleia Geral da ONU pinta um mundo que não é regido só pelos EUA, diz especialista a VEJA

Por Amanda Péchy
19 set 2023, 12h56

Ao abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas, como sempre faz o chefe de Estado brasileiro, o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou por todos os principais temas de relações internacionais e de geopolítica – desigualdade, desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas, imigração e guerra na Ucrânia (embora este último tenha aparecido en passant) –, mas o principal mote de sua fala foi o multilateralismo.

Mais uma vez, com o mote de que o Brasil está de volta ao cenário internacional, o petista criticou o atual sistema de governança, que permite, na sua visão, que o lado desenvolvido do planeta afaste das grandes decisões o chamado Sul Global. Segundo ele, os países ricos estão cada vez mais protecionistas, prejudicando o desenvolvimento igualitário do mundo. No discurso, o petista também lançou críticas ao neoliberalismo e a movimentos de extrema direita.

“Como não me canso de repetir, o Brasil está de volta. Nosso país está de volta para dar sua devida contribuição ao enfrentamento dos principais desafios globais. Resgatamos o universalismo de nossa política externa, marcada pelo diálogo com todos”, afirmou o líder brasileiro.

O discurso foi extremamente multilateralista, avaliou Roberto Uebel, especialista em geopolítica da ESPM, a principal pauta de política externa do governo Lula.

“Sua fala entende que hoje existe mais de uma potência. Não são só os Estados Unidos, mas China, Rússia e muitos outros players. Ele citou o G20, G-77, os Brics, a Organização Mundial do Comércio, que todo mundo parece ter esquecido”, disse Uebel a VEJA. “Ao destacar uma governança global multipolar, dá também importância ao Brasil e a si mesmo.”

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O petista também destacou a incapacidade do Conselho de Segurança da ONU em lidar com conflitos atuais, como a guerra na Ucrânia. Segundo ele, ver que persistem antigas disputas não resolvidas e que surgem ou ganham vigor novas ameaças “é perturbador”.

“A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU”, declarou, mas sem dar demasiado destaque à questão ucraniana em especial, assemelhando-a à crise humanitária no Haiti, o conflito no Iêmen, as ameaças à unidade nacional da Líbia e os golpes em Burkina Faso, Gabão, Guiné-Conacri, Mali, Níger e Sudão.

Apesar de ter abordado a guerra na Ucrânia de forma “subjetiva”, explicou Uebel, e retomar demandas de seu primeiro mandato, a fala difere do Lula de vinte anos atrás.

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“O discurso é mais realista em relação às relações internacionais. Foi uma fala pragmática, ainda que com pitadas lulistas, como os destaques ao Bolsa Família, às reformas trabalhista e tributária, e as críticas ao embargo a Cuba”, afirmou o professor da ESPM.

Foi, indiscutivelmente, uma virada de chave em relação a discursos do ex-presidente Jair Bolsonaro, que costumava ser muito mais agressivo. “Além de pragmático, realista e multilateralista, Lula se apresentou como aberto ao diálogo, diferente do antecessor”, analisa Uebel.

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