O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou na manhã desta sexta-feira a Lisboa para sua primeira viagem oficial no terceiro mandato à Europa. Segundo o Itamaraty, Lula vai reforçar a cooperação com países importantes para o Brasil, assim como com a União Europeia, mas a visita promete alguma turbulência.
Representantes da comunidade ucraniana em Portugal vão entregar à embaixada uma carta dirigida a Lula para “clarificar” a “ideia errada de Lula sobre o conflito”. Recentemente ele responsabilizou igualmente Ucrânia e Rússia pelo início da guerra e afirmou que a UE prolongava a aguerra ao fornecer material bélico para as tropas de Volodymy Zelensky. A posição do governo brasileiro no conflito têm sido amplamente utilizada como argumento pelos opositores de Lula em território português.
Lula vai visitar o parlamento português no dia 25 de Abril, data que se comemora a Revolução dos Cravos e a volta à democracia em Portugal. Na ocasião discursará diante da Assembléia. No dia seguinte, segue para a Espanha, onde permanece, em Madri, até o dia 26.
O Partido Social Democrata (PSD), segunda força política atual no país, exigiu que o governo português se posicionasse sobre o assunto, mas não tentou impedir o discurso de Lula no Parlamento. Já o partido de ultradireita Chega convocou para o dia 25 um ato contra a visita de Lula e até criticou o PSD por apoiar a presença do governante brasileiro. “É ultrajante ver um partido que deveria liderar o centro-direita dizer que saúda a presença de Lula da Silva em Portugal, no dia da conquista democrática”, disse André Ventura num vídeo enviado às aos veículos de imprensa locais.
No entanto, na comunicação para chamar manifestantes à frente da Assembleia da República, o Chega apelou para estratégias bolsonaristas, afirmando “lugar de ladrão é na prisão”. O Chega tem atualmente 12 deputados no Parlamento. O Partido Socialista é majoritário, com tem 120, seguido pelo PSD, com 77.
Em resposta ao movimento contrário a Lula, o Núcleo do Partido dos Trabalhadores em Portugal vai realizar, junto com associações, coletivos um ato de apoio a Lula e “em Defesa da Democracia”, no mesmo dia e local dos protestos contrários. Portugal tem uma grande comunidade brasileira, com 252 mil imigrantes oficialmente registrados no país, o que faz com que as disputas políticas do Brasil mobilizem grande número de pessoas.
Para além das disputas políticas entre manifestantes contra e pró Lula, na Espanha, os funcionários da embaixada decidiram fazer uma greve por uma hora, num ato simbólico no dia em que o presidente chega ao país. Os trabalhadores reivindicam um aumento de 30% nos salários.
Na agenda oficial de Lula, ele participará no sábado da 13a. Cimeira Portugal-Brasil, um encontro entre os chefes de governo dos dois países para colaboração bilateral. Também terá encontro com empresários locais e brasileiros e estará na cerimônia de entrega do Prêmio Camões, destinado aos escritores de língua portuguesa, que será concedido ao compositor e escritor Chico Buarque. O artista venceu o prêmio em 2019, mas o então presidente Jair Bolsonaro se recusou a entregá-lo.