O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, afirmou nesta quarta-feira (30) que acabou a batalha militar contra as drogas em seu país e que a perseguição dos chefes dos cartéis não é prioridade de seu governo. AMLO, como é chamado no México, defendeu a criação de uma guarda nacional, considerado por seus críticos como um projeto de militarização do país.
“Não existe guerra. Oficialmente, já não existe guerra. Nós queremos a paz, vamos conseguir a paz”, disse López Obrador ao ser questionado pela imprensa se algum chefe do narcotráfico foi detido desde o início de seu governo, em dezembro de 2018.
“Não prendemos chefes porque essa não é a nossa principal função. A função principal do governo é garantir a segurança pública. (…) O que buscamos é que haja segurança, que possamos diminuir o número de homicídios diários”, acrescentou.
Populista de esquerda, o presidente mexicano, de 65 anos, anunciou no último dia 15 um programa de combate à pobreza – e ao roubo de combustíveis das tubulações da petroleira Pemex – baseado na concessão de crédito a 1 milhão de pequenas e microempresas sem intermediários nem aval. Mas na seara da segurança pública, defende propostas polêmicas jamais testadas.
Em 2018, o número de homicídios no México disparou para 33.341, o mais alto desde que os registros nacionais começaram, em 1997, de acordo com o governo.
Especialistas em segurança pública concordam com AMLO que a captura de chefes do narcotráfico não é suficiente para acabar com a criminalidade. Essas prisões teriam motivado o controle dos cartéis por braços armados dessas organizações e a multiplicação delas em células autônomas, todas marcadas pelo emprego de elevado grau de violência.
López Obrador tem sido um duro crítico da estratégia militar de combate aos cartéis das drogas, lançada em dezembro de 2006, por ter desencadeado uma onda de violência no México. Desde então, houve no país mais de 200.000 homicídios, segundo cifras oficiais. Não há dados sobre quantas dessas mortes estão ligadas ao crime organizado.
Como candidato, ele lançara uma proposta polêmica de anistiar os criminosos, mas a reação de familiares de vítimas dos cartéis o fez engavetar a ideia. Também dizia, na campanha, que devolveria os militares aos quarteis. Mas, como presidente, enviou ao Congresso uma proposta de reforma constitucional para criar uma Guarda Nacional.
Organismos defensores dos direitos humanos, partidos da oposição e membros do partido de AMLO, o Morena, criticaram duramente a instituição da guarda nacional. Para a aprovação da reforma constitucional, que já passou pela Câmara dos Deputados, o presidente terá de obter o aval de dois terços do Senado. O Morena terá de conseguir o apoio do Partido Revolucionário Institucional (PRI) para a ideia sair do papel.
(Com AFP)