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Quem é o político linha dura que derrubou a coalizão de Netanyahu

Polêmico, o judeu russo Avigdor Lieberman fincou pé em questão secular e deu início a uma grande crise política em Israel

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 Maio 2019, 15h11 - Publicado em 30 Maio 2019, 14h18
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  • O Parlamento de Israel aprovou na primeira hora desta quinta-feira, 30, a convocação de novas eleições para setembro, após o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ter fracassado em suas negociações para formar uma coalizão. O grande nome por trás do impasse foi o do judeu de origem russa Avigdor Lieberman, da direita radical.

    Ex-ministro da Defesa e fundador da legenda Israel Nosso Lar (Yisrael Beiteinu), o político linha dura se recusou a participar do governo depois que o partido do premiê, o Likud, prometeu apoiar um projeto de lei que regulamenta a isenção dos estudantes seminaristas judeus ultraortodoxos de servirem nas Forças Armadas.

    Seu partido era essencial para que Bibi, como o premiê é conhecido, conquistasse maioria no Parlamento e pudesse resistir às investigações de corrupção e se manter no cargo.

    Diante da impossibilidade de formar uma coalizão, Netanyahu decidiu usar a ameaça de convocar novas eleições parlamentares para pressionar Lieberman. A estratégia, contudo, não funcionou, e Israel enfrentará em setembro o segundo pleito em menos de um ano.

    Lieberman resistiu a diversas tentativas de convencimento e à pressão de Netanyahu e seus aliados. Para muitos, contudo, a disputa entre os dois políticos é mais motivada pela sede de poder de ambos do que por qualquer questão relacionada a religião. Lieberman também luta por um governo mais secular e por maior apoio à comunidade judaica russa.

    O chefe do Israel Nosso Lar parece ter baseado sua política de oposição em um plano de exposição do fracasso do atual premiê. Após o anúncio das novas eleições, acusou Netanyahu de ter traído sua confiança ao tentar convencer os parlamentares de sua legenda a se aliarem ao Likud.

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    Bibi também saiu ao ataque ao afirmar que seu novo adversário é “agora parte da esquerda”. A acusação é um tanto quanto irônica, já que Lieberman é apontado por muitos como um dos grandes líderes da extrema direita de Israel. Em sua reação, o ex-ministro da Defesa disse que, quem é de esquerda é o próprio Netanyahu – igualmente distante dos ideários socialistas.

    Gulag e riqueza

    O ministro da Defesa de Israel Avigdor Lieberman
    Avigdor Lieberman, quando era ministro da Defesa, em visita a posições do Exército nas colinas de Golan, território sírio ocupado por Israel – 07/08/2018 (Amir Cohen/Reuters)

    Nascido Evet Lvovich Liberman em junho de 1958 na região da Moldávia (então União Soviética), o político emigrou para Israel em 1978 e mudou seu nome para Avigdor. Seus pai, Lev e Esther, se conheceram em um campo de trabalho forçado (gulag) na Sibéria. O casal foi preso durante o “Grande Expurgo” do regime de Joseph Stalin.

    Devido ao histórico de sua família, Liberman foi educado sob forte identidade judaica secular. O político atribui sua personalidade forte e franca à sua juventude na grande comunidade judaica dos anos 1970 na Moldávia.

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    “Éramos mais ricos, mais instruídos e mostrávamos isso. Os judeus da Moldávia têm essa tendência prática”, disse sobre seu passado.

    Lieberman formou-se em Relações Internacionais e Ciências Políticas pela Universidade Hebraica de Jerusalém e ajudou a fundar o Fórum Sionista para Judeus Soviéticos.

    Em 1988, começou a trabalhar com Benjamin Netanyahu e, cinco anos depois, tornou-se diretor-geral do partido Likud. Fundou, em 1999, o nacionalista Yisrael Beiteinu, que em hebraico significa “Israel é Nosso Lar”.

    Agressividade e corrupção

    Sua carreira política, contudo, foi abalada por uma série de polêmicas. Liberman já acusou membros dos partidos árabes do Parlamento de serem “colaboradores do terrorismo” e propôs reduzir o número de árabes que possuem cidadania israelense.

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    O parlamentar já atacou em diversas ocasiões o governo do Egito, ameaçando o acordo de paz entre Israel e esse país, e incitou o uso ainda maior de violência contra a Palestina.

    “Sempre fui controverso porque ofereço novas ideias. Para mim, ser polêmico é algo positivo”, afirmou em 2006.

    Em 2001, foi condenado por agredir um menino de 12 anos no assentamento de Nokdim, na Cisjordânia. O russo confessou ter estapeado e ameaçado o garoto porque ele havia batido em seu filho.

    Em 2011, Liberman foi acusado criminalmente por fraude, lavagem de dinheiro, quebra de sigilo e coação de testemunhas em um caso envolvendo pagamento de propina a empresários locais, mas foi absolvido em 2013. O político afirma que o julgamento foi parte de uma conspiração contra ele.

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    Histórico político

    Desde as eleições de março de 2015, Lieberman e Netanyahu vêm construindo uma relação política cada vez mais instável e conflitante. Durante as negociações para a formação de governo, após o pleito, o russo anunciou que não faria parte da coalizão do Likud, surpreendendo o premiê e deixando-o com apenas uma cadeira de vantagem sobre a oposição.

    O político linha dura afirmou ter tomado a decisão em prol de seus princípios e acusou a administração de Bibi de ser “oportunista”, e não “nacionalista”. Antes disso, já havia chefiado os ministérios de Relações Exteriores, Infraestrutura, Relações Estratégicas e Transportes.

    Em 2016, ele aceitou retornar ao governo do primeiro-ministro em troca de sua nomeação como ministro da Defesa. Em novembro do ano passado, porém, Lieberman renunciou ao seu posto após um desentendimento sobre a questão palestina.

    O impasse começou quando o gabinete do primeiro-ministro assinou um plano de cessar-fogo com o Hamas na Faixa de Gaza, depois de conflitos na fronteira que resultaram em oito mortes. Lieberman afirmou que a medida significava “render-se ao terrorismo” e retirou o Israel Nosso Lar da coalizão mais uma vez.

    Desde então, o discurso do judeu russo se tornou cada vez mais agressivo e recriminador. Ele baseou sua campanha eleitoral de abril em políticas nacionalistas e antipalestinas, acusando Netanyahu de não tratar a questão de forma enérgica o suficiente.

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