Os líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) disseram nesta quarta-feira, 4, no comunicado final divulgado após a reunião de cúpula realizada em Londres, que as “agressivas ações” da Rússia são uma ameaça à segurança da Europa e do Atlântico. Em uma derrota para a Turquia, a Aliança não discutiu a classificação das milícias curdas YPG como organização terrorista.
O documento divulgado pelos líderes da aliança critica Moscou pelo desenvolvimento de novos mísseis de alcance intermediário, que levaram ao rompimento do Tratado de Armas Nucleares Intermediárias (INF, na sigla em inglês) com os Estados Unidos. Os países membros da Otan também afirmaram que a crescente influência da China apresentava oportunidades e desafios para a Aliança.
O comunicado ainda ressalta o comprometimento com o princípio básico da organização, a defesa coletiva, apesar dos desencontros ocorridos anteriormente entre França, Turquia e Estados Unidos devido à gestão da Otan.
“Solidariedade, união e coesão são os princípios básicos da nossa aliança. Um ataque contra um aliado será considerado um ataque contra todos”, enfatizaram em declaração aprovada ao término da cúpula que celebra os 70 anos da Otan.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan havia pedido que os aliados reconhecessem a milícia curda YPG, contra a qual lançou uma ofensiva no norte da Síria em outubro, como organização terrorista. Caso contrário, havia ameaçado vetar um plano de defesa proposto pela Otan para os Países Bálticos e a Polônia.
Segundo o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, a reunião não abordou “especificamente” a exigência turca sobre o terrorismo curdo, uma questão sobre a qual é “bem sabido” que os aliados têm opiniões diferentes.
A decisão de Erdogan, em outubro, de lançar uma ofensiva contra os curdos no norte da Síria irritou alguns membros da aliança, especialmente o presidente da França, Emmanuel Macron. Ainda assim, os líderes conseguiram negociar e aprovar o plano de defesa para os Bálticos nesta quarta.
Stoltenberg reconheceu que “muitos aliados” manifestaram preocupação sobre a decisão da Turquia de adquirir da Rússia um sistema antimíssil que é incompatível com o da aliança. “Apesar das diferenças, estamos unidos na nossa tarefa central de nos defendermos uns aos outros”, destacou o político norueguês.
A reunião transcorreu com um clima muito bom, foi construtiva. Temos tomado muitas decisões e demonstrado que não olhamos só para trás na nossa história, mas também para o futuro” comentou o secretário-geral.
Diálogo com a Rússia
A Otan suspendeu a cooperação prática com o governo da Rússia em 2014, devido à anexação considerada ilegal da península ucraniana da Crimeia. Nesta quarta, o presidente da França, Emmanuel Macron, defendeu que a organização deve levar em conta um diálogo intenso com a Rússia, na busca pela paz na Europa.
“Nossa Aliança tem uma história e também uma geografia, de forma que a segurança e a estabilidade da Europa não podem ser garantidas com solidez, sem que seja posto em prática um diálogo sólido e exigente com a Rússia”, disse, em uma entrevista coletiva após o encerramento da reunião de líderes.
No encontro, os integrantes decidiram que o secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg, fará uma proposta para que, com o apoio de especialistas, seja aberta uma reflexão para impulsionar mais a unidade da Otan, após desencontros recentes como a intervenção da Turquia no norte da Síria.
Macron, que disse recentemente acreditar que a organização estava em “morte cerebral”, afirmou que a aposta deve ser por um marco de relações com Moscou, mas que, em todo caso, não se pode sacrificar a segurança ou os interesses dos países.
“Se queremos avançar na instabilidade da Europa, teremos que abrir esse diálogo”, afirmou o presidente da França.
Hoje, Macron também pediu que seja abordado pela Otan o controle do armamento e a não proliferação, depois o fracasso do tratado de redução de mísseis nucleares de curto e médio alcance (INF).
“Precisamos avançar coletivamente, imaginar um processo novo, que nos permita ter garantias, ao menos equivalentes ao INF, encontrar um marco jurídico apropriado e integrar melhor a defesa”, disse o chefe de governo francês.
(Com Reuters e EFE)