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Kirchner acusa Suprema Corte de ‘escrever e assinar’ sua condenação

Investigada por corrupção, vice-presidente da Argentina publicou vídeo em que critica duramente o mais alto tribunal do país

Por Matheus Deccache Atualizado em 19 jul 2022, 20h10 - Publicado em 19 jul 2022, 18h32

A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, publicou um vídeo nas suas redes sociais em que ataca duramente a Suprema Corte do país, acusando-a de ter “escrito e assinado” uma sentença contra ela. A atenção de Kirchner está voltada para a chamada “causa rodoviária”, que investiga um suposto desvio de verbas de obras públicas em favor de um empresário ligado à vice e que está preso por acusações de lavagem de dinheiro. 

No vídeo, a vice-presidente estimula os partidos políticos a construir um novo tribunal que emule o promovido por seu ex-marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, para acabar com a “maioria automática” promovida pelo também ex-presidente Carlos Menem, que ampliou de cinco para nove o número de juízes na corte. De acordo com a política, será “muito difícil melhorar as condições de vida” com a situação atual.

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A guerra entre o kirchnerismo e a Suprema Corte argentina teve início durante o mandato presidencial da própria Cristina, quando ela declarou inconstitucional uma ambiciosa reforma judicial. A situação se intensificou durante o governo de Mauricio Macri, período em que os tribunais federais aceleraram dezenas de processos contra altos funcionários de Kirchner acusados ​​de corrupção. 

Com a chegada de Alberto Fernández ao poder, em 2019, a maioria das investigações foram encerradas. No entanto, a “causa rodoviária” sobreviveu e coloca a vice-presidente sob pressão. Segundo a acusação, Cristina seria chefe de uma associação ilícita encarregada de enriquecer com dinheiro de obras públicas.

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No dia 1º de agosto, o promotor encarregado deverá mostrar provas que incriminam a política e um empresário ligado a ela, que ficou milionário graças aos contratos que obteve para construir estradas na província de Santa Cruz. Desse modo, a sentença final deverá estar pronta até o final do ano mas, para Kirchner, a assinatura de sua condenação já foi assinada. 

O escândalo desta semana é mais um em meio a vários envolvendo o governo de Alberto Fernández, que tem colocado o país no limite e feito a economia entrar em colapso. Nesta terça, a cotação do dólar no mercado informal chegou a 300 pesos, maior valor desde a derrocada econômica de 2001. Além disso, a inflação atingiu 64% em julho e as projeções apontam que ela deve ultrapassar os 90% até o final do ano. 

Para Kirchner, a Suprema Corte se tornou um problema em 2015, quando Macri nomeou dois juízes para preencher a corte sem passar por votação no Congresso, como manda a Constituição. 

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“Este episódio foi, sem dúvida, um ponto de virada na história do Judiciário argentino e o prelúdio do processo de perseguição política, judicial e midiática que se desencadeou em toda a região com eixos muito claros no Brasil, Argentina e Equador”, disse ela no vídeo. 

A relação dos governos argentinos com o principal tribunal nacional não se limita aos governos de Cristina. Historicamente, a Casa Rosada tem o hábito de tentar controlá-la, enquanto a oposição se considera vítima de suas perseguições políticas. Fernández foi um dos que tentou implementar mudanças para a corte, porém os escândalos políticos escantearam qualquer possibilidade de alteração. 

O vídeo da vice-presidente, no entanto, reacendeu o debate. Quase 24 horas depois da publicação, o presidente afirmou que “nossa justiça está deslegitimada e precisa urgentemente de uma reforma profunda e democrática”, completando que as acusações de sua vice “põe em crise a objetividade do sistema de justiça e a idoneidade moral dos membros do tribunal”.

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