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Jeffrey Epstein: rico, bonito e criminoso

Amigo de poderosos, o milionário conhecido por gostar de meninas muito jovens poderá pegar uma pena condizente com as vastas evidências de abuso sexual

Por Caio Mattos
Atualizado em 4 jun 2024, 15h35 - Publicado em 12 jul 2019, 06h30
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  • Bonitão, bon vivant, discretíssimo e imensamente rico, o americano Jeffrey Epstein circulou à vontade entre os poderosos durante décadas. Uma coisa todo mundo sabia, mas relevava: ele gostava de meninas bem novinhas. Nos anos 1990 e 2000, frequentou — como boa parte do PIB da Costa Leste dos Estados Unidos — as atrações de Mar-a­-Lago, misto de clube e condomínio de Donald Trump na Flórida. “É um cara fantástico”, elogiou o atual presidente americano, em entrevista em 2002. “Dizem que gosta de mulheres lindas tanto quanto eu, principalmente as bem jovens.” Depois de muito diz que diz que, Epstein foi preso em 2008 devido à denúncia de abuso sexual de menor de idade. Recebeu uma pena leve, cumpriu-a e submergiu. No sábado 6, ele voltou a ser preso, desta vez em Nova York. Com novas provas e uma promotoria empenhada, pode pegar até 45 anos de cadeia.

    Epstein, de 66 anos, foi detido em um campo de pouso em Nova Jersey, ao desembarcar de um de seus jatinhos, vindo de Paris. Na segunda-feira 8, já como réu, ele compareceu ao tribunal e se declarou inocente de duas acusações relacionadas com “tráfico sexual”, como é chamada a exploração de sexo com menores, mesmo que por uma pessoa só. Ao menos trinta meninas, algumas de 14 anos, frequentaram suas casas em Palm Beach e Nova York entre 2002 e 2005, atraídas pela promessa de pagamento por “massagens” e uma carreira de modelo. O caso pode se desdobrar em mais acusações, entre elas pornografia infantil: ao revistar sua mansão em Nova York (segundo corretores, a maior de Manhattan), a polícia encontrou CDs etiquetados com “fotos de garotas nuas”. “Desta vez, é pouco provável que ele consiga evitar uma pena pesada”, disse a VEJA o professor de direito John Coffee, da Universidade Columbia.

    CONEXŌES - Mar-a-Lago, 2000: Trump e Melania fazem pose com Epstein
    CONEXŌES – Mar-a-Lago, 2000: Trump e Melania fazem pose com Epstein (Davidoff Studios/Getty Images)

    Uma das vítimas mais estridentes de Epstein, Virginia Giuffre testemunhou em 2015 que havia conhecido o bilionário justamente em Mar-a-Lago, em 1999, quando tinha 15 anos e arranjara um emprego de verão no clube. Virginia deu detalhes de como funcionava o esquema e revelou que, even­tualmente, Epstein “emprestava” as meninas a visitantes, entre eles o príncipe Andrew, filho da rainha Elizabeth. Virginia também acusa de abuso sexual o professor da Harvard Alan Dershowitz, advogado do próprio Epstein. O financista contratava mulheres para arregimentar alunas nas escolas próximas e aspirantes nas agências de modelos e estimulava as meninas a trazer amigas para o incessante entra e sai de sua suíte. Frequentemente levava garotas nas viagens em seus dois aviões e no helicóptero que usava para chegar a sua ilha particular no Caribe.

    Foi na mais luxuosa de suas aeronaves, um Boeing 727 com mantas de pele nas poltronas, que ele levou Bill Clinton em uma viagem à África para divulgar sua fundação, em 2002. “Apreciei muito suas opiniões e sua generosidade”, elogiou depois Clinton — que agora diz que não o vê “há mais de dez anos”. Também Trump cuidou de mostrar distância. “Tivemos um desentendimento e não o vejo há quinze anos. Aliás, nunca fui muito fã dele”, declarou o presidente — apesar das várias fotos dos dois juntos em décadas anteriores, inclusive uma em que a então namorada Melania aparece, em 2000. Epstein começou a vida como professor de matemática em escola particular. Trabalhou em Wall Street, conheceu as pessoas certas, passou a administrar grandes fortunas — só aceita portfólios de mais de 1 bilhão de dólares — e tornou-se milionário. O primeiro processo contra ele, na Flórida, arrastou-se por três anos. De repente, graças a um acordo alcançado em sigilo absoluto e sem que nenhuma vítima fosse ouvida, anunciou-­se a sentença: treze meses de prisão semiaberta, além de indenizações em dinheiro. O acordo de mãe para filho, amplamente condenado, foi alinhavado pelo à época promotor Alexander Acosta, estrela do Partido Republicano e hoje secretário do Trabalho de Trump. Desta vez, o amigo presidente dificilmente poderá ajudá-lo.

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    Publicado em VEJA de 17 de julho de 2019, edição nº 2643

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