O Japão começou nesta quinta-feira, 24, a liberar no mar mais de 1 milhão de toneladas métricas de água radioativa tratada da usina nuclear de Fukushima, seguindo em frente com um plano criticado pela China, que já anunciou uma proibição imediata de frutos do mar e produtos marinhos vindos do Japão.
A China está “profundamente preocupada com o risco de contaminação radioativa trazida por produtos alimentícios e agrícolas do Japão”, afirmou o escritório aduaneiro chinês em comunicado. Em outra nota, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês afirmou que “o Japão não deve causar danos secundários à população local e às pessoas do mundo devido aos seus próprios interesses egoístas”.
Aprovado há dois anos pelo governo japonês, o projeto de despejar a água no Pacífico é tido como crucial para o descomissionamento da usina destruída por um tsunami em 2011. Ele também enfrentou críticas de grupos pesqueiros locais, temendo danos à reputação de seu produto.
A operadora da usina, Tokyo Electric Power Company, afirmou que a liberação começou por volta das 13h03, no horário local, e não foi identificada nenhuma anormalidade.
O Japão prometeu remover a maioria dos elementos radioativos da água, exceto o trítio, um isótopo de hidrogênio que deve ser diluído porque é difícil de filtrar. Essa água contém cerca de 190 becquerels – unidade de radioatividade – de trítio por litro, abaixo do limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde para água potável (de 10.000 becquerels por litro).
O Japão defende que despejar os resíduos no mar é seguro, e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) deu sinal verde ao plano em julho. O órgão de vigilância nuclear das Nações Unidas disse que o projeto atende aos padrões internacionais e que o impacto sobre as pessoas e o meio ambiente era “insignificante”.
De acordo com pesquisa da emissora japonesa FNN, divulgada no último fim de semana, 56% dos japoneses apoiam a liberação da água, enquanto 37% se opõe.
Apesar das garantias, alguns países vizinhos também expressaram ceticismo sobre a segurança do plano, sendo Pequim o maior crítico.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, chamou a medida de “extremamente egoísta”, acrescentando que a China apresentou uma queixa formal. Enquanto isso, o líder de Hong Kong, John Lee, caracterizou a iniciativa de “irresponsável” e disse que a cidade “ativaria imediatamente” barreiras à importação de frutos do mar japoneses a partir de quinta-feira.
A proibição, que também será implementada por Macau, abrange frutos do mar vivos, congelados, refrigerados, secos, sal marinho e algas marinhas. Por fim, a Coreia do Sul disse num comunicado divulgado nesta terça-feira que não vê problemas com os aspectos científicos ou técnicos do plano, mas não necessariamente o apoia.
Apesar do mal-estar com os vizinhos, o premiê japonês, Fumio Kishida, disse acreditar que um “entendimento preciso” do assunto está se espalhando na comunidade internacional. O governo japonês garantiu que vai disponibilizar resultados de testes da água do mar após o despejo de Fukushima no início de setembro, bem como testes com peixes nas águas próximas à usina.