Itamaraty: missão diplomática na Venezuela retorna ao Brasil nesta sexta
A medida já havia sido decidida antes da pandemia da Covid-19; governo brasileiro também encerrou atividades consulares em cinco países caribenhos
O Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Defesa anunciaram nesta sexta-feira, 17, a repatriação dos integrantes da representação diplomática e das repartições consulares do Brasil na Venezuela. A embaixada brasileira já está fechada desde quinta-feira 16 e os consulados desde março, em medida decidida antes mesmo da pandemia da Covid-19.
“Os integrantes da representação diplomática e das repartições consulares brasileiras na Venezuela, incluindo diplomatas e demais servidores do Itamaraty, adidos militares e civil e familiares, totalizando 38 pessoas, regressam nesta sexta-feira, 17, a Brasília”, informa a nota conjunta dos dois ministérios.
Outros 12 brasileiros também serão repatriados e embarcam de volta ao país no mesmo voo que a equipe diplomática, uma aeronave C 130 Hércules da Força Aérea Brasileira procedente da capital venezuelana, Caracas.
A embaixada do Brasil na Venezuela foi fechada na quinta-feira. O Consulado-Geral e os três vice-consulados brasileiros no país estão inativos desde 27 de março.
A decisão de encerrar a missão diplomática já havia sido tomada em fevereiro de 2020, ou seja, antes de qualquer caso da Covid-19 ter sido reportado à Organização Mundial da Saúde (OMS) na Venezuela. Segundo os dados venezuelanos, que são questionados, enviados à OMS, o país conta com 193 casos e 9 mortes.
Além da Venezuela, as missões diplomáticas brasileiras em cinco países caribenhos também foram encerradas: Dominica, Antígua e Barbuda, Granada, São Cristóvão e Nevis e São Vicente e Granadinas.
“Fechar os postos na Venezuela foi uma questão política. Os outros foram fechados por problemas de orçamento”, afirmou uma fonte diplomática à emissora de rádio francesa RFI se referindo ao antagonismo político entre o presidente, Jair Bolsonaro, e o ditador venezuelano, Nicolás Maduro. Mais de 10.000 brasileiros moram na Venezuela.
Desde janeiro de 2019, o governo Bolsonaro deixou de reconhecer como autoridade máxima do Executivo venezuelano o presidente Nicolás Maduro, reeleito no ano anterior em um pleito considerado fraudulento pela Organização dos Estados Americanos (OEA). O autoproclamado presidente interino do país, Juan Guaidó, passou a ser apoiado por Brasília, que já atuava entre os membros do Grupo de Lima, criado como frente multilateral de pressão pela redemocratização da Venezuela. O Brasil também reconheceu Maria Tereza Belandría, indicada por Guaidó, como legítima representante venezuelana no país.
A medida, porém, tem caráter extremo porque o governante da Venezuela continua a ser Maduro. Como presidente da Assembleia Nacional, destituída de poder efetivo, Guaidó não tem meios de deliberar sobre temas críticos das relações bilaterais. O Brasil tem com a Venezuela sua maior fronteira terrestre, com 2.199 quilômetros – uma linha porosa com intensa movimentação diária de cidadãos de lado a lado e também do crime organizado, que a torna uma questão de segurança comum aos dois países
Vivem no país cerca de 140.000 refugiados venezuelanos, e do lado venezuelano, a comunidade brasileira tem mais de 6.000 cidadãos. Mesmo tendo caído acentuadamente nos últimos anos, o comércio bilateral movimentou 107 milhões de dólares nos dois primeiros meses de 2020, dos quais 102 milhões de dólares referem-se aos embarques de produtores brasileiros ao país vizinho.