O número de mortos em ataques israelenses na Faixa de Gaza deve superar a marca de 30.000 ainda nesta semana. Enquanto negociadores de Egito, Catar e Estados Unidos tentam costurar um segundo acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo palestino Hamas, em guerra desde 7 de outubro, o governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, avança nos preparativos para uma série de ataques à superpovoada cidade de Rafah, ao sul do enclave palestino, que hoje abriga metade da população de Gaza.
Em um alerta sobre a potencial escalada de violência, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse nesta segunda-feira, 26, que a ofensiva militar em Rafah, que faz fronteira com o Egito, seria o “último prego no caixão” para a entrada de ajuda humanitária em Gaza. No início deste mês, a entidade alertou para um possível “massacre” na região. Netanyahu, por sua vez, alegou que a cidade é o último “reduto de comando” do Hamas e que um acordo de cessar-fogo apenas seria capaz de adiar a operação, não impedi-la.
“Não podemos deixar o Hamas no lugar. Não podemos deixar um quarto dos batalhões do Hamas em Rafah e dizer, bem, tudo bem”, disse ele à emissora americana CBS. “Se chegarmos a um acordo, (a operação em Rafah) será um pouco atrasada. Mas isso vai acontecer. Se não tivermos um acordo, faremos isso de qualquer maneira. Isso tem que ser feito.”
+ Israel mata ‘intencionalmente’ civis de Gaza por fome, diz relator da ONU
Rafah na mira
Nesta segunda-feira, 26, as Forças de Defesa de Israel (FDI) apresentaram um plano de retirada dos moradores de Rafah para que os soldados prossigam com as operações. Metade da população de Gaza foi deslocada para a cidade ao sul sob orientações anteriores da administração Netanyahu, que agora lança ataques aéreos ao local. Por lá, os recém-chegados vivem em tendas improvisadas, em meio à escassez de medicamentos, e 5% das crianças com menos de 2 anos sofrem de desnutrição aguda, de acordo com o relatório da ONU de janeiro.
O premiê argumenta que os civis seriam transferidos para “zonas limpas” ao norte, mas edifícios e infraestruturas foram devastados por ataques de Israel no início do conflito. A entrega do relatório ocorre após pressão do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que alertou o aliado sobre a perda de apoio caso mirasse em Rafah sem um esquema “credível” para proteger os moradores. Questionado sobre os próximos passos de Tel Aviv, à qual a Casa Branca destinou apoio “sólido e inabalável”, o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse que o democrata não foi informado sobre o futuro de Rafah.
+ Anúncio de Biden sobre cessar-fogo em Gaza foi ‘prematuro’, diz Hamas
Cessar-fogo
Em entrevista à emissora americana CNN, Sullivan informou que os negociadores de Israel, Catar, Egito e EUA concordaram sobre os “contornos básicos” de um acordo neste fim de semana, em Paris, na França. As próximas conversas serão realizadas em Doha e no Cairo, de acordo com a agência de notícias Reuters.
Ainda nesta terça-feira, 27, Biden adiantou à Reuters que um plano de trégua poderia entrar em vigor em breve — comentário contestado como “prematuro” pelo Hamas, acrescentando que “não corresponde à situação no terreno”. A possível pausa nos campos de batalha abrangeria o mês sagrado muçulmano do Ramadã, iniciado em 10 de março, e possibilitaria a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
Através das redes sociais, Israel indicou que o cessar-fogo permitiria a libertação de trinta ou quarenta reféns – mulheres, idosos e feridos – em troca de até 300 prisioneiros palestinos, com duração de até seis semanas. Acredita-se que 130 israelenses são mantidos reféns pelos militantes em Gaza. Em novembro, 105 cativos foram libertados, frutos da primeira e última trégua.