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Israel espera mudança de embaixada do Brasil para Jerusalém em janeiro

Chancelaria israelense quer que transferência seja organizada assim que Jair Bolsonaro tomar posse; Liga Árabe alertou Brasil contra decisão

Por Da Redação
Atualizado em 12 dez 2018, 15h08 - Publicado em 12 dez 2018, 10h37

A vice-ministra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Hotovely, disse “esperar que a embaixada brasileira se mude para Jerusalém em janeiro”, logo depois que o presidente eleito Jair Bolsonaro tomar posse.

A afirmação foi feita no domingo, 9, durante a conferência anual dos embaixadores do Ministério das Relações Exteriores, e relatada pelo jornal israelense Haaretz.

Hotovely, que é do Likud, partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, também afirmou que é importante “continuar a campanha para conseguir que mais embaixadas estrangeiras se mudem” para Jerusalém.

“Em maio, marcaremos um ano desde a mudança da embaixada dos Estados Unidos para a capital, e temos uma janela histórica de oportunidade para trazer o maior número possível de embaixadas estrangeiras a Jerusalém”, disse ela, acrescentando: “O mundo é simples – nós tivemos apenas uma capital nos últimos 3.000 anos, e é Jerusalém”.

Alguns dias depois de vencer as eleições, Bolsonaro disse que pretende transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém. “Como dito anteriormente durante nossa campanha, pretendemos transferir a embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém. Israel é um Estado soberano e nós devemos respeitar isso”, escreveu Bolsonaro em sua conta no Twitter.

Israel saudou a vitória dos deputados nas eleições, com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ligando para o presidente eleito para parabenizá-lo e dizendo estar confiante de que sua vitória “levará a uma grande amizade entre os dois povos e ao fortalecimento dos laços entre o Brasil e Israel”.

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O governo israelense já confirmou que Netanyahu comparecerá à cerimônia de posse em Brasília, em 1º de janeiro.

O presidente americano Donald Trump reverteu abruptamente décadas da política externa dos Estados Unidos no ano passado, quando reconheceu Jerusalém como a capital de Israel.

Sua atitude gerou indignação dos palestinos e do mundo árabe, além de preocupação entre os aliados ocidentais de Washington. Após o reconhecimento, a embaixada dos Estados Unidos foi transferida de Tel-Aviv para Jerusalém em maio.

Alerta do mundo árabe

A Liga Árabe alertou o Brasil, em uma carta enviada ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, para o risco de que a transferência da embaixada do Brasil.

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Na mensagem, o secretário-geral da liga, Ahmed Aboul-Gheit, afirmou que a mudança pode prejudicar as relações com os países árabes.

A Liga Árabe é uma organização de Estados árabes fundada em 1945 com o objetivo de reforçar e coordenar os laços econômicos, sociais, políticos e culturais entre os seus membros. Atualmente possuí 22 Estados-membros, incluindo a Palestina.

Comércio

O Brasil é um dos maiores exportadores de carne Halal do mundo e esse comércio pode enfrentar problemas se Bolsonaro irritar os países árabes com a transferência da embaixada. Isso poderia afetar fortemente as exportações para os principais mercados do Oriente Médio das empresas BRF e JBS.

O lobby dos exportadores de carne tem pressionado o presidente eleito a não fazer isso, e ele pareceu ter mudado de ideia por algum período.

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Mas seu filho Eduardo Bolsonaro disse, durante uma recente visita a Washington, que a mudança da embaixada “não é uma questão de se, mas de quando”, indicando que a decisão já estava tomada.

A declaração do deputado federal reeleito foi feita antes da visita o genro de Trump, Jared Kushner, na Casa Branca. Kushner foi um dos principais articuladores da mudança da embaixada americana para Jerusalém.

Os alimentos Halal são aqueles permitidos pela religião islâmica. Entre as carnes, os muçulmanos só comem frango ou carne bovina se o animal tiver sido degolado com o corpo voltado à cidade sagrada de Meca, ainda vivo, e pelas mãos de um muçulmano praticante, geralmente árabe. Antes do abate de cada bicho, o degolador pede autorização a Deus, em árabe, como forma de mostrar obediência e agradecimento pela comida. Peixes são considerados Halal por natureza, porque saem da água vivos. Já os suínos são considerados impuros pelo modo como se alimentam, por estarem ligados a ambientes de sujeira.

As relações comerciais entre os países árabes e o Brasil, contudo, não se limitam à venda de carnes Halal. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, de janeiro a setembro deste ano, o Brasil exportou para o Oriente Médio — excluído Israel — um total de 9,6 bilhões de dólares em produtos. O Irã foi o sexto maior comprador de bens brasileiros, com 4,6 bilhões dólares.

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Já Israel importou 256 milhões de dólares do Brasil no mesmo período, o que coloca o país no posto de 64º maior mercado do Brasil.

Disputa por Jerusalém

O status de Jerusalém é central no conflito palestino-israelense. Israel a controla desde 1967, mas os palestinos reivindicam a parte oriental da cidade sagrada como capital de seu futuro Estado.

A comunidade internacional, como forma de se manter neutra no conflito, encoraja as nações a manterem suas embaixadas em Israel na cidade de Tel-Aviv, principal centro comercial do país.

A decisão de Donald Trump de mudar a representação diplomática para Jerusalém provocou muitas críticas internacionais e trouxe ainda mais tensão para o conflito na região. Desde então, a Autoridade Palestina e outras lideranças da região têm se recusado a continuar as negociações com os israelenses.

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Em entrevista a VEJA, o embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Zeben, afirmou que as intenções do governo brasileiro em mudar sua embaixada são lamentáveis.

“Jerusalém é uma cidade ocupada. As Nações Unidas não reconhecem a soberania israelense sobre a cidade. E é uma tradição do Brasil, desde 1947, respeitar o direito internacional e não dar esse reconhecimento. Isso não é linha do PT, da direita ou da esquerda, mas uma tradição diplomática”, afirmou o embaixador.

“Teremos a maior boa vontade de explicar ao futuro governo brasileiro a posição palestina”, completou Zeben.

(Com Estadão Conteúdo e Reuters)

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