Israel e Hamas detalham próximos passos do cessar-fogo em Gaza
Trégua começou neste domingo e as primeiras três reféns foram libertadas pelo Hamas

O porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI), Daniel Hagari, e representantes do Hamas deram mais detalhes sobre os próximos passos do cessar-fogo que entrou em vigor neste domingo, 19. As três primeiras reféns foram libertadas mais cedo e já se encontram em território israelense.
O acordo de trégua entre Israel e Hamas terá três fases. Espera-se que, ao final da primeira fase, 33 reféns tenham sido libertados. Já Israel deve libertar mais de 1.800 prisioneiros palestinos em troca.
Segundo Hagari, durante esta primeira fase, que durará seis semanas, “três a quatro reféns serão libertados a cada semana”. Um oficial do Hamas afirmou à agência de notícias AFP que a próxima troca de reféns ocorrerá no sábado.
A trégua deveria ter começado às 8h30 no horário local — 3h30 no horário de Brasília –, mas foi adiada por causa de uma demora na divulgação dos nomes das reféns levadas pelo Hamas que seriam libertadas hoje. O cessar-fogo começou, de fato, às 11h15 no horário local (6h15 de Brasília).
Hagari confirmou que, com o adiamento do cessar-fogo durante esta manhã, “atacamos a infraestrutura militar do Hamas e armamos terroristas em veículos… Não toleraremos desvios dos acordos, como deixamos claro esta manhã”.
O braço armado do Hamas, Brigadas al-Qassam, diz que seguirá o cronograma da primeira fase. Em seu discurso, porém, o porta-voz Abu Ubaida alertou que quaisquer possíveis violações israelenses do cessar-fogo ameaçariam o acordo e colocariam em risco as vidas de outros reféns ainda mantidos em Gaza.
Acordo de cessar-fogo
O acordo previa o encerramento das hostilidades entre ambos os lados e a retirada das forças israelenses para o leste de Gaza, longe de áreas povoadas. Os militares de Tel Aviv se posicionarão, então, ao longo da fronteira do enclave.
Como parte da etapa inicial, o Hamas libertará 33 prisioneiros israelenses, incluindo mulheres civis, bem como crianças, idosos, civis feridos ou doentes. Em troca, Israel vai soltar vários prisioneiros palestinos detidos no país.
Essa fase incluirá ainda o retorno de palestinos para suas casas e facilitará o acesso de feridos e doentes a hospitais, para receber tratamento. Mais de 90% da população de Gaza, que antes da guerra era de 2,3 milhões de pessoas, foi deslocada internamente durante o conflito.
Além disso, está previsto um aumento do fluxo de ajuda humanitária, combustível e equipamentos de defesa civil para todas as partes da Faixa de Gaza, bem como a reabilitação de hospitais, centros de saúde e padarias, grande parte dos quais foi destruída ou debilitada devido a ataques aéreos.
O que ainda está no ar
O futuro do cessar-fogo e a possibilidade de uma paz duradoura dependem de negociações adicionais. Os militares israelenses, por exemplo, devem se retirar gradualmente dos grandes centros populacionais de Gaza na primeira fase, mas manterão presença ao longo da fronteira com o Egito, especificamente no Corredor Filadélfia, e na zona-tampão ao longo da fronteira com Israel.
A definição do tamanho dessa zona e o controle sobre ela ainda representam um ponto de discórdia nas negociações, que Al Thani garantiu que seria resolvido ainda nesta noite.
Longo prazo incerto
Outro ponto crucial para o sucesso do acordo é a segunda e terceira fase, que devem começar a ser tratadas após 16 dias da implementação da primeira fase e preveem não só à liberação de mais reféns, mas também a uma eventual retirada total das forças israelenses de Gaza.
A segunda fase tem como foco libertar os prisioneiros restantes — cujas famílias temem que possíveis violações impeçam o procedimento. Já a etapa final aborda acordos de longo prazo, incluindo um governo alternativo em Gaza e esforços de reconstrução do enclave devastado.
Com mais de 46.000 palestinos mortos e mais de 110.000 feridos, segundo o Ministério da Saúde palestino, o cessar-fogo traz um alívio momentâneo, mas não uma solução definitiva. Israel não se comprometeu a acabar com a guerra no acordo, mas expressou seu compromisso em buscar a libertação total dos reféns. Ou seja, não há garantia de que o cessar-fogo continue além da primeira fase.
Proposta de roteiro pós-guerra
Na terça-feira, 14, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, expôs o plano de Washington para o pós-guerra. O chefe da diplomacia americana, que será substituído pelo senador Marco Rubio no governo Trump, disse que o governo interino ficará nas mãos da Autoridade Palestina, mas que haveria uma parceria com as Nações Unidas e uma força de segurança com soldados de “nações parceiras”, para supervisionar os assuntos civis no enclave.
Depois, o governo interino entregaria o poder a uma Autoridade Palestina “reformada”. No entanto, Israel rejeitou repetidamente permitir que a organização, que administra áreas da Cisjordânia ocupada, assuma o governo de Gaza.
“Por muitos meses, temos trabalhado intensamente com nossos parceiros para desenvolver um plano pós-conflito detalhado que permitiria a Israel que se retirasse totalmente de Gaza, impedisse o Hamas de se reerguer e fornecesse governança para a reconstrução de Gaza”, disse Blinken.
Os Estados Unidos alertaram Israel de que o Hamas não poderia ser derrotado apenas com uma campanha militar, ele afirmou.
“Avaliamos que o Hamas recrutou quase tantos (combatentes) novos quanto perdeu. Essa é uma receita para uma insurgência duradoura e uma guerra perpétua”, disse ele.