Israel diz ter cercado Khan Younis, onde está quase toda população de Gaza
Operação ocorre após a morte de 24 soldados israelenses, maior número de baixas no exército em um só dia, colocando pressão sobre Netanyahu

O exército de Israel afirmou nesta terça-feira, 23, que seus soldados cercaram a cidade de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza. Uma semana antes, os militares lançaram uma ofensiva para capturar a região, que hoje abriga quase todos os 2,3 milhões de habitantes do enclave palestino.
“No último dia, os soldados das FDI [Forças de Defesa de Israel] realizaram uma extensa operação durante a qual cercaram Khan Younis e aprofundaram a operação na área. A área é um reduto significativo da Brigada Khan Younis do Hamas”, disse o exército.
“As tropas terrestres envolveram-se em combates corpo-a-corpo, dirigiram ataques [da força aérea] e usaram inteligência para coordenar os disparos, resultando na eliminação de dezenas de terroristas”, completou.
Cerco no sul
Na semana passada, Israel lançou uma ofensiva para capturar Khan Younis. Segundo Tel Aviv, a cidade é o principal quartel-general dos militantes do Hamas responsáveis pelos ataques de 7 de outubro contra comunidades israelenses no sul do país, que mataram 1.200 pessoas.
Quase todos os 2,3 milhões de habitantes de Gaza perderam as suas casas e a grande maioria está agora confinada em pequenas cidades a norte e a sul de Khan Younis. De acordo com a agência de notícias Reuters, muitas pessoas estão dormindo na rua em tendas improvisadas, e sofrem com escassez de alimentos, água potável e medicamentos.
Os palestinos disseram que o cerco israelense, bem como a invasão de hospitais em Khan Yunis na segunda-feira 22, deixaram os feridos fora do alcance das equipes de resgate. Devido ao risco à segurança, segundo a Reuters, mortos passaram a ser enterrados no terreno do hospital Nasser, ainda operante, já que não é possível chegar ao cemitério.
Outro hospital em Khan Younis, al-Khair, foi invadido por soldados israelenses e parte de sua equipe médica foi presa. Um terceiro, al-Amal, onde estão sediadas as equipes de resgate da ONG Crescente Vermelho, foi isolado e está inacessível, segundo autoridades palestinas.
Baixas israelenses
Os militares israelenses informaram nesta terça-feira que 24 soldados foram mortos em Gaza no dia anterior, de longe o maior número de baixas do lado de Tel Aviv em um único dia desde o início da guerra, há mais de três meses. As mortes ocorreram em meio a violentos combates em torno da cidade de Khan Younis.
Um porta-voz militar israelense disse que 21 soldados foram mortos quando dois edifícios, que eles haviam equipado com minas para demolição, desabaram depois que o Hamas disparou granadas contra um tanque próximo ao local. Os militantes, porém, alegaram que os próprios explosivos israelenses detonaram antes da hora.
Anteriormente, as FDI disseram que três soldados foram mortos num ataque separado no sul de Gaza.
Pressão sobre Netanyahu
As mortes dos soldados israelenses ocorrem enquanto Israel começa a ver os primeiros sinais de descontentamento com a estratégia de guerra do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que visa “extinguir” o Hamas, mas que não detalha o que acontecerá com Gaza após o fim do conflito.
Na terça-feira, Netanyahu declarou: “Ontem vivemos um dos dias mais difíceis desde o início da guerra. Em nome dos nossos heróis, pelo bem das nossas vidas, não pararemos de lutar até a vitória absoluta.”