Os acordes e as vozes do oratório “Hear! O Israel”, do compositor americano Cormac Brian O´Duffy, originariamente seriam o ápice das celebração de hoje (14) dos 70 anos da independência de Israel do mandato britânico. Não será mais. A inauguração da embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém tornou-se o momento de maior prestígio – e de tensão – por realizar um velho desejo de sucessivos governos israelenses: a confirmação diplomática da cidade histórica como sua capital.
Outras duas embaixadas serão transferidas nesse mesmo dia para Jerusalém – as do Paraguai e da Guatemala. Outros países mantiveram-se mais cautelosos quanto uma mudança com tanto impacto para suas relações com o Oriente Médio, como o Brasil, e mantiveram suas representações diplomáticas em Israel em Tel-Aviv.
Não à toa, o momento deverá ser marcado por fortes protestos nas fronteiras de Israel com a Cisjordânia e Gaza e igualmente dentro de territórios israelenses. Para os palestinos, 14 de maio é o dia do Nakba (catástrofe, em árabe), quando 750 mil pessoas se viram forçadas a se deslocar das cidades e vilas de suas famílias e buscar abrigo em países vizinhos, como refugiados.
A “Grande Marcha do Retorno“, uma série de protestos organizados por entidades palestinas na Faixa de Gaza, iniciados em abril, deverá alcançar seu ponto máximo hoje. Até sexta-feira (11), 44 palestinos que participavam dessa marcha haviam sido mortos por militares israelenses. Parte dos palestinos que vive em Israel deverá juntar-se aos manifestantes.
Para Israel, hoje será um dia de especial celebração. Para o Estado Palestino, de lamentação e de repúdio. Confrontos são considerados inevitáveis. A situação de potencial confronto entre Israel e Irã, com ataques a posições recíprocas há apenas quatro dias, é outro elemento de preocupação. Cerca de 1.000 policiais estarão a postos somente para dar segurança à festa de inauguração da embaixada americana.
A inauguração da Embaixada dos Estados Unidos se dará com a presença do primeiro-ministro de Israel, Benyamin Netanyahu. Para essa celebração, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou sua filha, Ivanka, seu genro, Jason Greenblatt, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e seu conselheiro sênior Jared Kushner, entre outros, como parte da delegação oficial. Com a iniciativa, Trump cumpre mais uma de suas promessas eleitorais.
Cerca de 800 pessoas serão recebidas pelo embaixador David Friedman à nova representação americana em Jerusalém. O prédio da 14 David Flusser Street, de pedras amarelas, funcionava desde 2010 com Consulado americano em Jerusalém, segundo jornal americano Washington Post. Foi reformado e ganhou novos equipamentos de segurança, a um custo total de 400 mil dólares. Em um primeiro momento, apenas o embaixador Friedman e seus colaboradores mais próximos passarão a trabalhar dali. Não há espaço para os demais.
Ontem, o Ministério das Relações Exteriores de Israel recebeu cerca de 1.200 pessoas em uma recepção prévia ao traslado das embaixadas. Na lista estavam congressistas americanos, líderes religiosos, políticos israelenses e outros convidados.
A principal organizadora das celebrações de hoje foi a ministra de Cultura de Israel, Miri Regev, uma política provocativa e leal a Netanyahu que atualmente é conhecida como a “Trump de saltos altos”. Seu objetivo é terminar o dia com “zero mortes”, como comentou durante uma de suas vistorias para os eventos.