Israel avança com tanques na Cisjordânia enquanto trégua em Gaza ameaça expirar
Trata-se da primeira vez que carros de combate israelenses invadem território palestino desde o fim da segunda intifada, em 2005

Israel avançou nesta segunda-feira, 24, com tanques na Cisjordânia, território ocupado pelo governo israelense desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Os ataques, que tiveram início no domingo e foram registrados em uma série de cidades, incluindo Jenin, Hebron e Qabatiya, ocorrem em meio à incerteza sobre o futuro de Gaza, já que a primeira fase do acordo de cessar-fogo expira no início de março e as negociações sobre a próxima etapa andam com lentidão.
Em resposta às ações na Cisjordânia, o Ministério das Relações Exteriores da Palestina afirmou que trata-se de “um prelúdio (de Israel) para expandir seus crimes contra o povo palestino”.
“Essa escalada acontece enquanto o ministro da “defesa” israelense, Israel Katz, se gaba de que o exército de ocupação israelense impedirá que os palestinos deslocados retornem para suas casas e ordenou uma presença militar estendida na área”, disse a pasta em comunicado.
“O ministério vê esses desenvolvimentos — incluindo as declarações de Katz, a implantação de tanques e a intimidação deliberada de civis indefesos — como uma grave escalada na Cisjordânia e uma tentativa flagrante de consolidar o genocídio e o deslocamento forçado contra nosso povo desarmado”, acrescentou.
Trata-se da primeira vez que tanques israelenses entram no coração da Cisjordânia desde o fim da segunda intifada, em 2005. A invasão com carros de combate, definida por Israel como uma operação “antiterrorista”, ocorre em meio ao anúncio de Katz de que as tropas do país permanecerão em pontos urbanos do território, que faz fronteira com o leste de seu país, “pelo próximo ano”, de forma a deslocar à força 40 mil pessoas que viviam em um campo de refugiados.
Os campos de refugiados abrigam descendentes de palestinos que fugiram dos diversos conflitos com Israel nas últimas décadas. Em Genebra, durante uma reunião do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar “profundamente preocupado com o aumento da violência na Cisjordânia ocupada por colonos israelenses e outras violações, bem como com os apelos por anexação”.
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Cessar-fogo em Gaza
A escalada de violência na Cisjordânia aumenta as preocupações sobre o futuro do cessar-fogo entre Israel e o grupo palestino Hamas, em vigor desde 19 de janeiro, que já foi fragilizado por uma troca de acusações de violações entre os dois lados do conflito. Na manhã de sábado 22, o Hamas entregou os últimos seis reféns israelenses vivos previstos para a primeira fase do acordo. Em troca, Israel libertaria cerca de 600 prisioneiros palestinos, mas o processo foi adiado por supostos desrespeitos dos militantes ao pacto.
O gabinete de Netanyahu acusa o Hamas de violar o acordo com “cerimônias vergonhosas que desonram os reféns” e suspendeu a soltura dos palestinos “até que a libertação dos próximos reféns seja garantida, sem rituais de humilhação”. O Hamas, por outro lado, afirma que o atraso de Israel em libertar o sétimo grupo de palestinos “no prazo acordado constitui uma violação flagrante” do acordo de cessar-fogo.
Enquanto isso, as negociações para a implementação de uma segunda fase do acordo, a partir de março, não deram resultados. Esta etapa incluiria, além da libertação dos reféns restantes, tratativas sobre a reconstrução de Gaza e a formação de um governo provisório para administrar o território palestino.