Irã insiste não ter acobertado sua culpa por queda de avião
Governo iraniano alega não ter mentido e se vê diante de reação internacional contra a repressão a protestos no país
O governo do Irã negou nesta segunda-feira, 13, ter acobertado a sua responsabilidade pela explosão e queda de um avião ucraniano em Teerã no último dia 8. O caso provocou indignação e protestos entre os iranianos, reações dos Estados Unidos e do Canadá e também rendeu um atrito diplomático com o Reino Unido. Todos os 176 passageiros e tripulantes morreram.
“Nestes dias de tristeza, houve críticas aos responsáveis e às autoridades do país. Alguns responsáveis foram inclusive acusados de mentir e de tentar acobertar o ocorrido, quando, sincera e honestamente, este não foi o caso”, disse o porta-voz do governo, Ali Rabii.
“A verdade é que não mentimos. Mentir é disfarçar a verdade de maneira intencional e consciente. Mentir é acobertar informações. Mentir é conhecer um fato e não dizê-lo, ou deformar a realidade”, acrescentou Rabii.
As Forças Armadas iranianas admitiram apenas no sábado 11, três dias depois da tragédia, terem derrubado voo PS572 da Ukraine International Airlines por equívoco. Nos dois dias seguintes à queda da aeronave, a Organização de Aviação Civil iraniana e o governo do aiatolá negaram a hipótese de que o avião tivesse sido derrubado por um míssil, já mencionada desde o dia 5 pelo Canadá.
Violência
O anúncio da responsabilidade das Forças Armadas provocou uma onda de indignação no Irã. Na noite de sábado 11, uma cerimônia em homenagem às vítimas em uma universidade de Teerã se transformou em uma manifestação contra as autoridades, aos gritos de “morte aos mentirosos”. A polícia conseguiu dispersar a multidão.
Na noite de domingo 12, várias mobilizações foram registradas em Teerã, conforme vídeos publicados nas redes sociais que não puderam ter sua veracidade confirmadas. Houve registro de cenas de violência das forças de segurança. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu ao governo iraniano que “não mate os manifestantes”.
A Alemanha exortou o Irã a permitir os “protestos de forma pacífica e livre”. A porta-voz do Ministério de Relações Exteriores alemão, Maria Adebahr, classificou como “muito preocupantes” as imagens de vídeo nas quais se vê as forças de segurança iranianas reprimindo a multidão.
O chefe da Polícia de Teerã declarou nesta segunda-feira que recebeu ordens para agir com “moderação” frente às recentes manifestações. Em conversa na noite de domingo com o primeiro-ministro sueco, Stefan Lofven, o presidente iraniano, Hassan Rohani, prometeu uma “exaustiva investigação” sobre o desastre aéreo, conforme anúncio feito por sua assessoria.
Reino Unido
Também nesta segunda-feira, o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido convocou o embaixador iraniano em Londres para protestar contra a breve detenção, no fim de semana, do representante diplomático de Londres em Teerã, anunciou o porta-voz de Downing Street.
“Foi uma violação inaceitável da Convenção de Viena e deve ser investigada. Pedimos ao governo iraniano todas as garantias de que isso não voltará a acontecer. A chancelaria convocou hoje o embaixador iraniano para lhe transmitir nossas firmes objeções”, afirmou o porta-voz.
Mas o Irã ameaçou na noite de segunda-feira expulsar o embaixador caso ocorra um novo “erro” do governo britânico. Teerã “pede o cessar imediato de qualquer ação intervencionista e provocadora”, indicou em um comunicado o ministério iraniano de Relações Exteriores.
No domingo, o Irã reconheceu que deteve, brevemente, o embaixador britânico, Rob Macaire, quando ele deixou uma vigília em Teerã em memória das 176 vítimas, logo transformada em manifestação contra o governo iraniano.
O vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Abas Araghchi, esclareceu que Macaire “não foi preso, mas retido, por ser um estrangeiro não identificado que participava de uma manifestação ilegal”. De acordo com o vice-ministro, Macaire foi liberado 15 minutos depois, tão logo sua identidade foi confirmada.
O embaixador britânico negou, por sua vez, ter participado de manifestações contra as autoridades iranianas, como publicaram alguns veículos da imprensa local.
(Com Reuters)