Um conselheiro do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, afirmou nesta quinta-feira, 9, que seu país mudará sua política nuclear caso Israel coloque em risco sua existência. A ameaça ocorre após o vaivém de ataques entre Teerã e Tel Aviv, que aumentou as tensões no já explosivo Oriente Médio e periga transformar a guerra em Gaza em um conflito regional mais amplo.
“Não tomamos a decisão de construir uma bomba nuclear, mas se a existência do Irã for ameaçada, não haverá escolha a não ser mudar nossa doutrina militar”, disse Kamal Kharrazi, conselheiro do aiatolá Khamenei e antigo ministro das Relações Exteriores do Irã.
Jogo perigoso
As tensões entre os dois inimigos de longa data aumentaram em abril, quando o Irã lançou cerca de 300 mísseis e drones contra o território israelense. Foi uma retaliação a um ataque de Israel à embaixada iraniana em Damasco, capital da Síria, que matou três comandantes da Guarda Revolucionária iraniana em 1º de abril.
Em resposta, Israel fez disparos contra Isfahan, uma das maiores cidades iranianas e centro de fabricação de drones e mísseis balísticos. Por enquanto, Teerã comunicou que não tem planos de retaliação contra a ofensiva israelense, devido à ausência de danos graves.
Depois das explosões em Isfahan, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, afirmou que um novo ataque de Tel Aviv contra o território iraniano poderia resultar no fim do “regime sionista”.
Armas nucleares
O desenvolvimento de armas nucleares é proibido no Irã desde o início dos anos 2000 por questões religiosas. Em 2019, Khamenei afirmou que construir e armazenar bombas nucleares era “errado” e usá-las era “haram” (ou religiosamente proibido).
Apesar de não possuir armas nucleares oficialmente, Kharrazi afirmou em 2022 que o país tecnicamente é capaz de produzir tais armamentos. Em fevereiro, um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) demonstrou “preocupação” em relação ao programa nuclear iraniano, afirmando que Teerã ultrapassou os limites de enriquecimento de urânio determinado pelo Plano de Ação Conjunta Global.
Segundo a AIEA, o país está enriquecendo urânio em até 60% de pureza, aproximando-se dos níveis necessários para a produção de armas nucleares — cerca de 90%. A quantidade do material radioativo iraniano seria suficiente para a produção de duas ogivas, caso fosse enriquecido ainda mais.